Urubus se tornam vizinhos indesejados
“Os urubus estão incomodando demais, inclusive um entrou na churrasqueira e colocou um ovo tivemos que fechar a churrasqueira.
“Os urubus estão incomodando demais, inclusive um entrou na churrasqueira e colocou um ovo tivemos que fechar a churrasqueira. Na sacada tenho o varal de chão, eles sobem encima e sujam a roupa. A sacada está sempre suja, pois eles defecam ali, esta um caos”.
O relato acima é de uma moradora da área urbana de Joaçaba, mas parece que trata-se de alguém que mora bem longe do centro. Essa é uma situação que cada vez mais os moradores estão tendo que se acostumar, especialmente em prédios no centro e residências nas partes altas da cidade. Há algum tempo os urubus, que são considerados vizinhos indesejados, começaram a aparecer com maior frequência e aos poucos foram causando transtornos, como espalhar mau cheiro por estes locais. Muitos moradores de prédios já não sabem o que fazer. Pessoas que convivem com o problema, ouvidas pelo do Éder Luiz.com, contam que não é fácil dividir o mesmo espaço com os animais. A presença deles causa certo temor e sair na sacada ou varanda só quando as aves não estão. O desconforto é maior por que o número de urubus só parece aumentar e não há uma solução fácil para ser adotada. A Bióloga Cláudia Fontana concedeu uma entrevista ao Éder Luiz.com falando sobre o problema. Para ela, a aparição dos animais em área urbana em grande número tem uma explicação. “O avanço da urbanização sobre os ambientes naturais tem reduzido o habitat de muitas espécies silvestres e contribuído para o desequilíbrio dos ambientes naturais. Este desiquilíbrio afeta diretamente as populações da fauna silvestre, que a partir da pressão sobre seus habitats naturais alteram seu nicho ecológico e começam a se estabelecer em ambientes urbanos”. Segundo ela, os urubus que vemos todos os dias em Joaçaba vem para a cidade em busca de alimentos e por aqui tem encontrado fartura. “O urubu-de-cabeça-preta, este que é visto em Joaçaba, é quase exclusivamente necrófago, isto é, possui uma dieta composta predominantemente por carcaças ou carniça. Para o aumento da população de Urubus na área urbana de Joaçaba algumas hipóteses podem ser levantadas considerando a ecologia da espécie, que é de ambiente aberto, onde exista locais para poleiros, faz seu ninho em rochas sobre o solo, toco de árvores mortas e outros locais abrigados. Quando em área urbana se alimenta de sobras de comida, restos de animais domésticos abatidos e frequentemente é observado próximo a esgotos. Com o aumento da fragmentação florestal nos arredores da cidade e diminuição das áreas verdes urbanas no município ao longo dos últimos anos, novos ambientes favoráveis a esta espécie de urubu vem sendo criados. Com mais habitats favoráveis, mais a população cresce, iniciando-se então um processo de dispersão em busca de mais recursos. Dessa forma, eles chegam às cidades onde encontram um local apropriado, áreas abertas, muitos poleiros (as edificações), e os locais para forrageio passam a ser o acúmulo de resíduos em terrenos baldios, as lixeiras abertas nas ruas, áreas com esgoto a céu aberto, onde consomem diversos outros tipos de rejeitos putrefatos e até pequenos animais”. Explica. A bióloga diz, para desespero da população que convive com as aves, que não será fácil sem planejamento diminuir a população de urubus. “Para o controle da população na cidade o diagnóstico preliminar é fundamental e deve apontar o que está atraindo as aves para o centro urbano, bem como de onde elas vêm, onde seria a fonte dessas populações. Frequentemente a oferta de alimento e abrigo é um dos fatores atrativos. Desse modo, a redução da população pode ocorrer simplesmente reduzindo oferta de alimento na cidade e identificando o foco delas nas áreas rurais, podendo começar a busca por depósitos de lixos a céu aberto no interior ou aterros sanitários que não tenham adequada manutenção. Medidas como ampliação do saneamento básico para eliminar focos de esgoto a céu aberto, fiscalização dos terrenos baldios, punição para deposição de resíduos de forma inadequada, coletas diárias dos resíduos no centro e em bairros, opção por um sistema de lixeiras urbanas fechadas, ou com aberturas que dificultem o acesso das aves, contribuem para a redução da população de urubus nos centros urbanos”. Segundo a bióloga Claudia, também é necessário identificar os pontos que estão servindo de refúgio para estas aves na cidade e buscar medidas que impeçam seu pouso neles. “Algumas dessas medidas pode ser a instalação de telas ou taxas que impedem o pouso, instalação de adesivos que imitem predadores (gaviões, águias, falcões), uso de repelentes químicos até captura, transporte e realocação das aves em habitats naturais”. E para quem pensa em apenas se livrar da espécie, um alerta. “É importante compreender que os urubus desempenham um papel fundamental no meio ambiente, são responsáveis pela sanidade ambiental, uma vez que removem materiais em decomposição que abrigam muitos agentes patogênicos prejudiciais para a saúde. Qualquer medida de redução dessa população deve passar essencialmente pela conscientização da população humana sobre a necessidade básica de dar correta destinação aos resíduos urbanos. Neste contexto, a redução da oferta de alimento reduzirá também a população de urubus no centro cidade”. Na próxima reportagem a preocupação da Polícia Militar Ambiental com o problema.