“Tigrinho” e apostas já reduzem orçamento familiar
Relatório inédito sobre o impacto do jogo online mostra que famílias com menor orçamento já deixam de gastar para apostar.
As famílias com menor orçamento já estão sendo afetadas pelos jogos online, de forma negativa. A conclusão é de relatório da consultoria PwC Strategy&, que analisou o impacto das apostas esportivas no consumo dos brasileiros.
Desde 2018, quando o jogo online foi legalizado no país, os gastos com a atividade entre as famílias da classe C triplicaram: de 0,25% para 0,77% do orçamento mensal. Entre as classes D e E o aumento é ainda maior. Apenas em 2023, representou 1,38% do orçamento a cada mês.
Apesar da porcentagem baixa, a preocupação é com os jogos tomando o lugar de outras atividades. No levantamento da PwC, 48% dos entrevistados das classes C, D e E admitiram gastar menos com bares, restaurantes ou delivery para jogar. O mesmo acontece com cinemas, teatros e shows, que tiveram redução para 41% dos participantes.
O alerta é válido também para o varejo. Os jogos online, como o popular “jogo do Tigrinho”, receberam parte do valor antes dedicado para compras de roupas e acessórios por 43% dos entrevistados na pesquisa.
Quando questionados sobre poupança, 52% dos participantes das classes C, D e E disseram ter redirecionado o que antes iriam economizar. Perguntados sobre a principal motivação para apostar, 54% afirmaram que é o potencial de ganhar dinheiro. Resposta que reforça os achados de outro estudo, da ENV Media: nele, 59% tiveram a mesma justificativa.
Necessidade de mudança no discurso
Entre os desafios levantados pelo estudo, o principal é a necessidade de mudança radical no discurso sobre jogos online no Brasil. A busca por dinheiro rápido em muitos casos leva ao endividamento crescente, sem nunca dar frutos. Na pesquisa, 60% dos entrevistados reconheceram que perdem mais do que ganham.
O Governo Federal já está de olho no problema. O ex-assessor especial do Ministério da Fazenda, José Francisco Mansur, chegou a afirmar que este é um dos objetivos do processo de regulamentação das apostas esportivas. “Queremos transmitir para a sociedade brasileira que jogo não é meio de enriquecer, jogo é um lazer, uma diversão”, disse em reunião da Comissão do Esporte na Câmara dos Deputados.
Senado vota liberação de cassinos e jogos de azar
Apesar destes resultados e da publicidade cada vez crescente das melhores casas de apostas, o tipo de jogo de azar mais popular entre os brasileiros ainda são as loterias. Liderados pela Mega-Sena, têm a preferência de 58% dos apostadores, contra 32% das apostas esportivas e 27% das raspadinhas.
Os jogos lotéricos também podem ter, em breve, a concorrência de mais algumas formas de jogo. O Senador Irajá, do PSD-TO, diz já ter a quantidade de votos suficiente para aprovar o PL 2.234/22, que trata da liberação de cassinos, bingos e outros tipos de jogos de azar no país.
Caso seja transformado em lei, Santa Catarina poderá receber um estabelecimento do tipo, instalado em complexo turístico. De acordo com o ministro do Turismo, Celso Sabino, a expectativa é que a legalização dos jogos e a criação de resorts integrados crie entre 600 mil a 1 milhão de empregos diretos e indiretos no Brasil.