Coluna Brinda Brasil - Rabanada, o doce típico do Natal

Por Rodrigo Leitão A rabanada é um prato típico português e o Brasil herdou esse doce com muita propriedade.

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Rabanada de panetone
Rabanada de panetone

Por Rodrigo Leitão

A rabanada é um prato típico português e o Brasil herdou esse doce com muita propriedade. Lá em casa é um sucesso, lembro que meu pai não perdia uma rabanada feita pela minha avó. Meus filhos também não dispensam a rabanada. O doce veio lá de Portugal, mas o ano exato de criação da rabanada é uma incógnita. Diz a lenda que a receita surgiu quando uma mulher pobre, sem ter quase nada para comer, precisava alimentar o filho recém-nascido. Os únicos alimentos que ela conseguia eram restos de pão dormido molhados com leite adocicado. Ela comeu isso e passou a produzir tanto leite que amamentou o filho e ainda sobrou para outras crianças. É por causa dessa lenda que se costuma dizer às mulheres grávidas que elas devem comer rabanada. Mas no Brasil não existe esse costume fora da época de Natal. Assim, a rabanada acabou virando símbolo de prosperidade e fartura e aí é que passou a ser servida nas festas de fim de ano. Segundo a crendice popular, quem comesse rabanada poderia ficar rico. Uma outra lenda diz que toda mulher rica que se tornava mãe era alimentada com rabanadas para aumentar o leite materno. Na França também tem rabanada, mas lá chama-se: Pain perdu (leia se “pán perdí”). A região de Portugal onde surgiu a rabanada é chamada de Minho. Ao sul dessa região, a rabanada era chamada de fatia dourada ou fatia-de-parida (mulher que teve filho). Mas em Portugal cada região tem sua própria receita de rabanada: tem rabanada dourada, rabanadas do convento, fidalgas, de vinho... No Brasil existem registros históricos da rabanada dada a mulheres de pós-parto, pra ter sustância no leite. Uma citação disso está no livro Açúcar, de Gilberto Freyre. Jorge Amado também fala de rabanada. Ainda na fase Ilhéus, ele conta que a receita foi alterada na Bahia, trocando-se o leite de vaca por leite de coco. Não é difícil fazer rabanadas. A tradicional receita portuguesa contemporânea é feita com pão dormido, leite, muito açúcar, pau de canela, casca de limão, manteiga, mel, sal, gemas de ovos e vinho do Porto. No Brasil não se faz assim. A maioria das pessoas nem usa vinho, mas quando usa não é o do Porto. Usa-se qualquer vinho mesmo e mais ainda o vinho doce ou suave. Pra muita gente não existe Natal sem rabanada. E pra muita gente, não existe Natal sem panetone. O chef Dudu Camargo, de Brasília, criou uma receita de rabanada de panetone. Ele me explicou que na rabanada de panetone não há necessidade de o pão ficar com a consistência dura, de pão dormido. A delícia pode ser feita quando o pão ainda está fresquinho. Ele mandou essa receita que compartilho com você. FAÇA EM CASA: Rabanada de panetone Ingredientes: - 1 panetone - 1 litro de leite - 1/2 kg de açúcar - Uma pitada de Sal - 1 litro de óleo - 200ml de vinho do Porto - 1 pau de canela - 10 ovos - Pra finalizar: 100g de açúcar e 20g de canela (1 colher de sobremesa). Modo de preparo: Ponha o açúcar, a canela, o vinho do Porto e o leite na panela. Deixe ferver e reserve. Em outro recipiente, coloque os ovos batidos com uma pitada de sal. Aqueça o óleo à temperatura de 170ºC. Corte o panetone em farias de aproximadamente 2 dedos de espessura. Passe as fatias na mistura do leite morno e em seguida nos ovos batidos. Frite e finalize com açúcar e canela... HARMONIZAÇÃO: A melhor harmonização com rabanada é o vinho do Porto. Mas se você quiser sofisticar e apresentar o prato como uma iguaria internacional, sirva os brancos doces de sobremesa de Bordeaux, rança, chamados de Sauternes. Se a grana estiver curta, experimente com vinhos de sobremesa das vinícolas brasileiras, chamdos de Colheita Tardia e que custam de R 12 a R 50. Agora, se harmonização for com panetones, a melhor opção são os moscatéis do estilo Asti, com pouco álcool (7%) e média de 72 gramas de açúcar. Em Santa Catarina existem excelentes moscatéis da Sanjo, Villa Francioni, Santa Augusta, Villaggio Grando, Kranz entre outras vinícolas. Feliz Natal!

Rodrigo Leitão, especialista em enogastronomia. O colunista dedica-se há três décadas ao jornalismo e já passou por redações como O Globo, Jornal de Brasília, TV Brasília, TV Band e Rádio Band News FM, em Brasília onde atua no segmento de comunicação e eventos. Rodrigo Leitão organiza anualmente o Brinda Brasil – Salão do Espumante de Brasília, o maior encontro nacional exclusivamente com produtores de espumantes. Ele já atuou nas áreas de Economia, Política, Internacional, Cultura e Saúde, onde conquistou vários prêmios. Conheça o blog Gourmet Brasília. Clique Aqui!

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