Cultura em Cena: Chimaru, 30 anos de palco

Omar Dimbarre conta a trajetória de um dos ícones do rock no Meio Oeste de SC.

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Cultura em Cena: Chimaru, 30 anos de palco

19 de abril de 1992, domingo de páscoa: o Grupo Fogo de Chão estava prestes a fazer um show na praça em frente a Catedral de Joaçaba, no evento “Páscoa do Povo”, quando a pedido dos organizadores, abriu espaço para a banda Som Maneiro subir no palco. E é este momento que marca o início de uma trajetória bem sucedida, que chega aos seus 30 anos. A banda Som Maneiro era formada pelo irmão Silvio Santos (voz), Vicente Alexandre Sychocki (guitarra base), Carlos Sartori (guitarra solo), Rivellino Sartori (bateria) e Chimaru (baixo). A estreia estava marcada para acontecer na noite anterior, mas o evento foi interrompido enquanto a missa do Sábado de Aleluia era celebrada. Quando retornaram os shows, e chegou a vez da banda ser anunciada, poucas pessoas ainda estavam presentes, o evento já havia acabado, e a apresentação foi cancelada.

Chimaru cresceu em um ambiente em que músicas de discos do Raul Seixas, Zé Ramalho, Alceu Valença, Pink Floyd e Benito de Paula se revezavam com o som das cordas do violão do irmão Silvio Santos. Apesar de todo este contato com a música, ser um músico ainda não era algo que o instigasse. Isto começou a mudar quando dois amigos inseparáveis da escola, Vicente Sychocki e Rafael Comini Barcelos, decidiram aprender a tocar violão com o músico Roberto Garaio, e durante um dos encontros costumeiros para ouvir música, na casa do amigo Vicente, fizeram uma demonstração do que haviam aprendido, e convidaram-no para acompanhá-los, cantando. Como se dava bem nas aulas de inglês, soltou a voz cantando “Light my Fire” da banda The Doors. Estes encontros para ouvir música, tocar instrumentos e cantar, se tornaram corriqueiros.

Então, veio o convite do irmão Silvio Santos, que estava montando a banda Som Maneiro, para que assumisse o baixo. Mesmo sem nunca ter tocado, topou e nos primeiros dois ensaios da banda, ficou observando, e nos próximos, encarou a tarefa. A Som Maneiro durou mais algumas semanas, mas foi o suficiente para impulsionar de uma vez por todas uma carreira que se solidificaria com o passar do tempo.

Apesar da dissolução da Som Maneiro, Chimaru e o amigo Vicente, empolgados com as experiências adquiridas até então, resolveram seguir adiante, e para acompanhá-los na bateria, chamaram o amigo Pablo F. Bittencourt. Chimaru além do baixo assumiu também o vocal do trio. Nascia a banda Digito 0. Com esta nova formação tocaram no Colégio Cristo Rei, e foi a partir deste show, que Daniel Fiedler abriu as portas do bar Ponto 40 (atual Bola 7). Com o espaço conquistado no Ponto 40, outros bares começaram a requisitá-los, e merece destaque também, as várias noites de violão e voz no Bar Senadinho, do amigo Marco Antônio Franzoi. Alguns meses depois, o baterista deixa a banda, e é substituído por Luciano Kerber, e com esta formação, surge a banda Cor Púrpura.

Em janeiro de 1994, a cidade de Pato Branco, situada no sudoeste do Paraná, foi sacudida por um grande festival de Rock and Roll. Em 15.000 metros quadrados de área, no meio de um bosque, Barão Vermelho, Titãs, Pepeu Gomes e Alceu Valença, dividiram o palco com outras 40 bandas oriundas de várias partes do país. E entre estas bandas, estava a Cor Púrpura. Foi uma viagem de aventura. Carregando seus instrumentos, dinheiro contado somente para alimentação, embarcaram no ônibus, e com uma vontade imensa de conhecer os grandes artistas que iriam se apresentar, partiram para o Paraná. A coleção de discos do ídolo Alceu Valença, seguiu junto. A meta era que todos voltassem autografados, e talvez pudesse conhecer o ídolo que aprendeu a admirar ainda em sua infância.

Sem dinheiro para o hotel, nos dois primeiros dias, acabaram dormindo em uma barraca de um roqueiro que conheceram no evento, e no terceiro dia, descansaram em um posto policial. E foi na segunda noite, a mesma em que os Titãs se apresentaram, que a Cor Púrpura subiu no palco, e contribuiu para a história de um festival que se firmou como um dos mais importantes de Pato Branco. O show de Alceu Valença, que explodiu nas rádios na década de 80, cantando “Morena Tropicana”, encerrou o evento. E foi no final do evento, que veio o tão almejado convite. A mulher responsável pelo camarim, que havia morado em Joaçaba, e já havia conseguido autógrafos para todos os seus discos, chamou-o para conhecer o pernambucano. Não foi fácil conter a emoção quando a porta do camarim se abriu, e seu ídolo aproximou-se de braços abertos, e lhe abraçou. E para completar aquele momento memorável, quando se deu conta, o cantor e guitarrista Pepeu Gomes, estava no mesmo ambiente.

Das boas lembranças que ficaram destes dias na estrada, impossível esquecer também da conversa que tiveram após o show dos Incríveis, com Manito, que fundou a banda O Som Nosso de Cada Dia, e com Netinho, que tocou na banda Casa das Máquinas. Logo após a Estação da Luz, a Digito 0 acabou, e a Visagem, uma nova banda foi formada, com Chimaru (baixo e voz), Vicente Sychocki (guitarra) e Alencar Bittencourt (bateria). E foi com esta banda, com um repertório de rock pesado, que tocou pela primeira vez no Bar Ponto de Vista, e que representa um momento muito importante de sua vida. Com a mudança do Alencar para os Estados Unidos, e o Vicente seguindo outro caminho, a banda se dissolveu.

O apelido Chimaru foi dado pelo amigo Vicente, e retirado do personagem Dan Shimaru, do seriado japonês “O Poderoso Lion Man” exibido na extinta TV Manchete, mas só se popularizou a partir de 1995, quando foi apresentado ao João Fernando, e este influenciou outras pessoas a chamarem desta forma. A partir do encontro com João Fernando, nasce a banda Duck Ass com Chimaru (voz), João Fernando (baixo), Fábio Thibes (guitarra), Everton Luiz (vocal), Altamir Silva (teclado) e Pablo F. Bittencourt (bateria), que depois foi substituído pelo Alencar Bitencourt. Jethro Tull, Rush, Led Zeppelin e Deep Purple, entraram para o repertório. Destaca-se nesta época o inesquecível show “Resgate do Rock and Roll”, em Passo Fundo, organizado pelo amigo Mauro Padilha. Foi nesta época também que o Bar Ponto de Vista iniciou um movimento com oficinas de música, onde toda quinta-feira, cerca de 20 a 30 músicos se revezavam no palco, tocando MPB e Rock and Roll.

E foi nesta mistura de talentos e ritmos, que a MPB, que fez parte da sua criação, passou a fazer parte também do seu repertório musical em suas apresentações. Em 1996, nasce a Suco de Manga, uma banda que tocava cover, formada por Chimaru (voz, violão, baixo), João Fernando Marson (guitarra e voz), Pablo F. Bittencourt (bateria) e Eduardo Pedrini (baixo). No final de 1996, mais uma banda: a Aunt, com Chimaru (vocais), Felipe Ratajenski (guitarra), Marcelo Souza (baixo) e Douglas Milkiewicz (bateria). O repertório da banda era composto por Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Iron Maiden, AC/DC e Casa das Máquinas. A Aunt foi a primeira banda de Joaçaba a gravar um CD com três composições própria e dois covers.

Das afinidades surgidas durante as oficinas do bar Ponto de Vista, surgiu a banda Estação da Luz, com Chimaru (baixo e voz), João Fernando Marson (voz, violão guitarra, teclado), Paulinho Passold (guitarra, violão e voz) e Gian Baldissera (bateria) e, na segunda formação José Roberto Mateus Jr (Piti) (Violão e voz). Até 1999, participou de vários festivais da canção, ganhando vários prêmios, fez aulas de canto com o Maestro Emílio, participou de um show com a banda Echoes, e da a banda Delta 9, com Marcelo Rebelatto (Lebrão), na bateria.

Em 2000, com um projeto paralelo, chamado Rubber Sound Beatles Band, participou junto com amigos, de um encontro brasileiro de bandas cover de Beatles, no Hilton Hotel, em São Paulo. Entre 50 bandas, terminaram em sexto lugar e em quarto lugar pelo público. Foi a única banda do sul do país a se apresentar. Em 2001 foi convocado para tocar na banda Velha Mistura, de Videira. Foram quase 15 anos, e a história musical na capital catarinense da uva também é imensa. Foi com esta banda que tocaram no show do Nazareth, em Herval d´Oeste; em 2009 tocaram no Orquídea Rock Festival, em Lages, onde abriram o show do inglês Gleen Hughes, ex-baixista e vocalista do Deep Purple; e abriram o show do Nenhum de Nós, no Videira Fest, onde se apresentaram para um público de 30.000 pessoas, o maior da sua carreira.

No começo do ano 2000, com a febre do sertanejo e do acústico, a maioria dos bares não contratava mais bandas, só violão e voz, e foram quase dois anos sem tocar, por que estava estigmatizado como roqueiro. Foi quando reformulou seu repertório, e junto com o sobrinho Fabiano Lebkuchen, o Bezorro, montou a Akustikera; uma parceria que se mantém há 16 anos. Em 2009, produziu o seu primeiro evento musical: Tributo a Raul Seixas, que foi apresentado no Teatro Alfredo Sigwalt, em Joaçaba, e depois seguiu para outras cidades da região; e em 2010 conheceu o artista blumenauense Klauss Jagger, que faz cover do Mick Jagger, e montaram o Klauss Jagger and the Stonebreakers, um tributo a Rolling Stones.

Atualmente Chimaru mantém ativo quatro projetos musicais:

Mothership (Tributo à Led Zeppelin), com Chimaru (voz), Francisco Fronza (guitarra), Fernando Andriolli (bateria), Ernesto Lamonatto (teclado), e Diego Luiz de Mattos (baixo) 

- Joasabbath (tributo à Black Sabbath), com Chimaru (voz) Douglas Karg (bateria) e Ricardo Leandro Kasteller (guitarra) e Diego Luiz de Mattos (baixo)

- Akustikera, com Chimaru (voz e violão), Fabiano Lebkuchen, o Bezorro (bateria)

- The Freytaz Classic Rock Band (Clássicos do Hard Rock anos 70 e 80), com Chimaru (vocal) Bezorro (bateria), Emanuel Schneider (baixo e voz) e Jessé thibes (guitarra).

Fonte:

Omar Dimbarre

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