Cultura em Cena: Karla Krug e suas Bonecas de Pano
Confira a coluna desta semana, que conta como Karla transformou seu sonho de infância em realidade.
Minha infância foi marcada pelas aventuras de Narizinho, sua boneca Emília, Pedrinho, Visconde de Sabugosa, Dona Benta, Tia Nastácia e outros personagens que entravam todos os dias nos lares brasileiros, através de uma série transmitida pela TV Globo, e que deixou saudades em toda uma geração.
Karla Krug, uma artista que nasceu em Joaçaba, e cresceu em Luzerna, faz parte desta geração que todo dia cantava junto com o baiano Gilberto Gil: “Boneca de pano é gente, sabugo de milho é gente, o sol nascente é tão belo, Sítio do Picapau Amarelo”.
E foi a personagem criada pelo escritor Monteiro Lobato, a primeira boneca de pano a fazer parte de sua vida, chegando em suas mãos, em forma de presente, trazida pelo seus pais.
A arte está impregnada em sua família e em sua vida desde que nasceu. O pai, fez da fotografia sua profissão e aprendeu a tocar violino sozinho, a mãe faz crochê e bordados, a avó faz macramê, e suas tias fazem tricô e crochê. E convivendo neste meio cultural, aprendeu a confeccionar roupas e toucas de crochê e tricô para suas bonecas.
Em suas brincadeiras infantis, sonhava em fazer suas próprias bonecas de pano, e idealizava ser uma estilista, ou embalada pelo amor que sente por animais, sentimento que a levava a socorrer qualquer um que encontrasse abandonado, sonhava em ampliar o alcance de seus braços, tornando-se uma veterinária.
Aprendeu a pintar quando ainda era pequena, e quando chegou na adolescência, ampliou seu conhecimento e sua técnica, participando de cursos de pintura em tecidos e pintura em tela a óleo. Conhecimento que hoje lhe é bastante útil em sua profissão, pois quando cria uma boneca, é necessário pintar um rosto, desenhar uma boca ou um olho. Também possui em seu currículo cursos de bolsas de retalhos de couro,
Karla é graduada em empreendedorismo com ênfase em marketing na Unoesc. Em 2013 mudou-se para Porto Alegre, onde trabalhou como promotora de vendas.
No final de 2019, se contaminou com uma superbactéria, que se alojou em seu pulmão e desenvolveu SARA(Síndrome da Angustia Respiratória Aguda), doença que quase lhe tirou a vida. Após um mês hospitalizada, e neste tempo, tendo ficado 16 dias em coma, recebeu alta hospitalar em janeiro de 2020. Bastante debilitada e com a explosão da pandemia do covid 19 no Brasil, em março do mesmo ano, entrou de cabeça na produção de bonecas de pano, tornando real a fantasia que tinha na sua infância.
“A utilidade de uma boneca de pano vai além de brincadeiras. Ela serve para educar, para decorar, e como terapia.”
Em abril de 2021, mudou-se de Porto Alegre para Itapema, permanecendo no litoral catarinense durante 7 meses, e então retornou para Luzerna.
Entre as bonecas produzidas por Karla, merecem destaque as bonecas Russas e bonecas Tilda. Ambas não possuem boca, pois são bonecas que falam com o coração. Elas se expressam pelo olhar, refletindo os sentimentos da criança naquele momento.
Recebe encomendas para decoração de festas de aniversários, com o tema da festa, e produz bonecas personalizadas, com características da proprietária, incluindo tatuagens.
Uma psicóloga de Pelotas encomendou um boneco do pai da psicanálise, Sigmund Freud, pois estava desenvolvendo uma tese de mestrado, e ao final faria uma exposição em uma Universidade. Foi um trabalho bastante minucioso, onde foram confeccionadas 8 cabeças, até chegar no resultado idealizado.
Outros destaques de suas criações são Frida Kahlo, Betty Boop, Mulher Maravilha, Galinha Pintadinha, e suas vendas já ultrapassaram as fronteiras catarinenses, seguindo destino para a Bahia, São Paulo, Rio Grande do Sul, Acre, Paraná, e até para os E.U.A., levada por uma portoalegrense para presentear sua neta.
E há também bonecas que são criações de sua mente inventiva, como a de uma sereia, que tem uma cauda removível, e que instiga a imaginação da criança.
Neste universo lúdico merece destaque a história de uma senhora de 100 anos, que era extremamente apegada a uma boneca muito velha, já desgastada pelo tempo.
No começo da pandemia, confeccionou máscaras, e a filha desta senhora comprou algumas para as enfermeiras que a cuidavam, e acabou conhecendo o seu trabalho. Então, encomendou uma nova boneca para sua mãe, que foi confeccionada de forma bastante flexível, com dois vestidos, um chalé e um pijama, e com cabelos compridos, visto que a futura dona gostava de arrumar o cabelo da sua boneca, pois a tratava como uma filha.
Após o envio da encomenda, recebeu fotos desta senhora com a boneca no colo, sentada ao seu lado na hora das refeições, dormindo com ela de pijama, e participando das atividades de fisioterapia. Foi um presente que tornou a vida dela bem mais agradável, e isto foi bastante emocionante e gratificante.
“Outra coisa que eu gosto do artesanato: Eu gosto muito de me dedicar para as pessoas, eu sinto alegria e felicidade em poder me doar para fazer coisas para os outros. E o que tem melhor do que você fazer uma boneca e colocar todo o seu amor, toda sua dedicação naquele produto ?
As minhas bonecas são exclusivas. Você não vai achar nenhuma igual a outra. A não ser estas básicas tipo a Frida Kahlo, que é aquilo ali, a imagem dela. Mas, se você me pedir hoje uma boneca para presentear alguém, eu vou procurar saber quem é esta pessoa, o que ela faz, o que ela gosta, qual a cor do olho, qual a cor do cabelo, que estilo de roupa ela usa, é neste sentido que eu faço a boneca
Teve uma cliente minha que queria uma bonequinha para a filha dela, com as características da filha. Então eu fiz a boneca com a cor do cabelo da menina, mesmo tom de pele e com o olho da mesma cor do olho da menina.
Não é só uma venda. Dedico todo meu amor, minha criatividade, meu tempo. Por que eu vi quer era especial para esta mãe, para a filha dela, por que eu sou mãe também. Isto é algo que me realiza em fazer bonecas. Por que não é só um pedaço de pano costurado, tem toda uma história por trás daquele produto.”
Com o sonho de sua infância realizado, agora um projeto maior faz parte do imaginário da artista Karla Krug:
“Eu sonho em ter uma escola de artesanato, com cursos em todas as áreas. Eu vou correr atrás, eu sei que eu vou alcançar, eu sei que é a médio ou longo prazo, mas eu quero ter uma escola, pode ser em parceria com o Município ou com o Estado, ou então, particular, e eu vou oferecer cursos, com bolsas gratuitas e cursos pagos. Música também. Uma escola para incentivar a cultura e a arte. Algo com preço justo e acessível para todos, e com projetos sociais também!”
Além das bonecas, Karla também faz mochilas, estojos, almofadas personalizadas, costura criativa, patchwork e pinturas.
Para conhecer mais sobre a artista karla Krug acesse sua página no Instagram - @karlakrugatelie
Página no facebook https://www.facebook.com/karlakrugatelie
Cultura em cena é uma coluna escrita pelo produtor cultural Omar Dimbarre, para destacar o que se faz no meio cultural da região.