Dona Maria Chaves - Uma Artista do Povo
Dona Maria faleceu em setembro deste ano, aos 83 anos, deixando uma história rica e bonita que é revivida na coluna Histórias Populares.
No início da década de 1960, todos os domingos à noite, Sulito Moreno, um comunicador da Rádio Catarinense, apresentava um popular programa ao vivo de trovas. Entre as atrações, uma dupla de trovadores, Dona Maria Chaves e seu cunhado, Airton Chaves, conquistava o público com seus improvisos. Eles eram sempre os responsáveis por abrir o show, dado o sucesso que faziam. Outras duplas se apresentavam depois, mas Dona Maria e Seu Airton tinham um espaço garantido no início de cada programa. O talento da dupla logo ultrapassou as fronteiras de Herval d'Oeste e Joaçaba, levando-os a se apresentar na extinta Rádio Sulina, em Capinzal.
Dona Maria, era casada com José Chaves Neto, nasceu em Catanduvas e mudou-se para Herval d'Oeste aos 11 anos. Ela perdeu a mãe aos 3 anos e foi criada pelo pai e por uma madrasta.
Dona Maria e Seu José se conheceram em um matinê dançante na década de 1950. Após trocarem algumas palavras, dançaram juntos e, ao final do baile, fascinados um pelo outro, despediram-se, marcando o início de uma história que mudaria para sempre suas vidas.
Os salões dos clubes de dança tornaram-se testemunhas dos encontros do casal, que, em meio aos movimentos harmoniosos dos passos, trocavam risos, olhares e confidências ao som do ritmo envolvente da música.
A cada encontro, os dias de espera por um novo final de semana tornavam-se cada vez mais longos. Era como se a eternidade tivesse aprisionado o tempo, impedindo que os ponteiros do relógio se movimentassem.
As horas passavam preguiçosamente, como um gato sonolento se espreguiçando ao acordar. O Sol, preso ao anseio de um novo encontro, não conseguia se despedir no horizonte. Quando o breu da escuridão finalmente substituía a luz do dia, e um profundo silêncio se ancorava sobre a terra. o sono, então, se recusava a abraçar a noite, prolongando ainda mais uma espera que parecia nunca ter fim.
O desejo de compartilhar todos os momentos juntos cresceu de forma avassaladora. Cada momento separados era um tempo de vida desperdiçado. Então, elaboraram um plano de fuga. Os trilhos da estrada de ferro indicavam um caminho a seguir, e a estação final desse percurso significava uma nova vida, onde suas almas se entrelaçariam para sempre.
Embarcaram na estação ferroviária de Herval d'Oeste e desembarcaram na estação de Capinzal. Hospedaram-se em um hotel, e permaneceram por alguns dias na cidade, até sentirem que era o momento de retornar.
Após o casamento, moraram por três anos no porão da casa do sogro, na Turma, comunidade formada pelos trabalhadores da Rede Ferroviária, ao lado da estrada de ferro.
O casal acabou se mudando para a Volta do Maurício, atual bairro São Vicente. Durante algum tempo, viveram em casas alugadas, até economizarem o suficiente para adquirir sua própria casa. Compartilharam uma vida festiva, celebrando cada momento juntos, como se estivessem eternamente em um matinê dançante.
Além dos duelos musicais, Dona Maria possuía o dom de criar personagens marcantes, como o menino pobre e a mulher grávida. Caracterizada, ela se apresentava publicamente, encantando as plateias e arrancando muitos risos com suas atuações hilárias. Dona Maria tinha um talento especial para levar alegria às pessoas por meio de sua arte.
Há sete anos, seu José partiu, deixando um imenso vazio na vida de Dona Maria e de seus familiares.
Em maio deste ano, Dona Maria compartilhou suas memórias para o documentário Contadores de Histórias 2 – Moradores de Herval d'Oeste. O filme foi lançado no dia 5 de agosto, mas, tristemente, Dona Maria faleceu no dia 23 do mesmo mês, aos 83 anos, deixando uma história rica e bonita, na qual talento e criatividade se entrelaçaram para dar vida a composições e personagens criados por sua imaginação fértil.
Histórias Populares é uma coluna escrita pelo produtor cultural Omar Dimbarre.