Irani adota Santa Tereza no Rio Grande do Sul com contratação de horas máquinas para ajudar na reconstrução do município
Prefeita Gisele diz que deseja um momento de encontro com Irani, mas por enquanto, o agradecimento é por meio de oração.
A solidariedade não tem fronteiras. Municípios com centenas de quilômetros de distância estão cooperando na reconstrução de cidades gaúchas atingidas pelas chuvas. Na Serra, Santa Tereza, que foi fortemente castigada pela terceira vez seguida, está sendo auxiliada por Irani, localizado a mais de 300 quilômetros, na região oeste do Estado vizinho, e que tem 10 mil habitantes.
A prefeitura catarinense já disponibilizou recursos financeiros para a contratação de 400 horas máquinas que são utilizadas na desobstrução de estradas e limpeza da cidade gaúcha.
O prefeito de Irani, Vanderlei Canci, explica que, diante da situação de calamidade do Estado vizinho, houve uma união entre os municípios da região de Chapecó, que fica a 120 km de Irani para atender algumas cidades gaúchas.
— Nós aqui disponibilizamos recursos para a prefeita Gisele (Gisele Caumo, de Santa Tereza) contratar horas máquinas. Estamos a mais de 300 quilômetros de distância de Santa Tereza e não posso deixar a minha cidade aqui desabastecida, então vamos ajudar financeiramente para a reconstrução. Não conhecia a prefeita, nem sei direito onde fica a cidade, mas agora tem que ser assim. Também, como o meu município aqui não é tão grande, eu quis adotar um município menor que o meu para que a gente pudesse dar conta — afirma o prefeito.
Contratação de serviços
Na região Oeste de Santa Catarina, muitas pessoas são oriundas do Rio Grande do Sul, ou têm familiares que moram em solo gaúcho mas os filhos buscaram novos rumos. Diante da falta de comunicação com os atingidos e movidos pela solidariedade, os prefeitos que compõem a Associação dos Municípios do Alto Uruguai Catarinense (Amauc), junto com outros integrantes da região Oeste se reuniram para ajudar os municípios gaúchos.
De acordo com secretário-executivo da Amauc, Vanderlei Roberto Picinini, alguns moradores que tiveram condições de vir até as cidades atingidas uniram-se e estão auxiliando com voluntariado, com doações de mantimentos e serviços pessoais. Já em outros municípios foi possível a doação de recursos financeiros. Para melhor organizar a quem ajudar, foi sugerido esse método de uma ou duas cidades catarinenses adotarem um município gaúcho atingido pelas chuvas.
Com o apoio da Defesa Civil, os prefeitos foram orientados a dividir os trabalhos. "Então, primeira etapa, socorrer as pessoas, quem estiver em situação de risco. Segunda etapa, acomodar essas pessoas, que é abrigar todas elas. Terceira etapa, limpeza e reconstrução. A gente está ajudando nesta terceira parte da limpeza e reconstrução. E, infelizmente, pelo que eu vi pessoalmente aí, tem cidades que nem sabem o que fazer, se vão reconstruir o que vai ser feito", diz Picinini.
Em todos os casos haverá um contrato de cedência com aprovação da Câmara de Vereadores do respectivo município, dentro das condições de cada um, com base em levantamentos e orientações da Defesa Civil de Santa Catarina.
Assinado o termo de cooperação, entre Irani e Santa Tereza, Gisele Caumo encaminhou a Irani um edital para a contratação das horas máquinas. Segundo Gisele, o prefeito Vanderlei Canci fez a negociação diretamente com as empresas que participaram do processo licitatório.
"O dinheiro nem vem pra cá. Assim que tivemos o acordo de cooperação, fizemos um levantamento inicial de equipamentos que precisávamos e ele já contratou. O recurso nem veio pra cá. Além disso, a cidade abriu uma chave pix para a doação em dinheiro da comunidade. Num futuro próximo, esse dinheiro virá para auxiliar em outras questões", comentou Gisele.
O prefeito de Irani explica que também aguarda da equipe de Santa Tereza uma lista do que a cidade precisa, para destinar corretamente os recursos e materiais. Canci salienta que a ajuda voluntária pode ser ineficiente se enviada de forma excessiva, ou pouca, por isso, pretende atender aos poucos a cidade, conforme a demanda. Não há um prazo definido para acabar esta cooperação entre os municípios.
— No segundo momento, eu já ofereci a ela uma cooperação técnica. Por exemplo: se ela está com problema na educação, nós vamos enviar uma equipe nossa aqui pra auxiliar. Vamos conversar, dar ideia, ver o que a gente pode fazer pra ajudar eles a retornarem a educação. Se precisa da psicóloga, nós já temos as nossas psicólogas aqui, que se prontificaram a ir lá trabalhar uma semana,10 dias, ou a assistente social. Então, o que ela precisar, vai nos dizer e a gente vai cooperar tecnicamente. Essas são as duas coisas que nós vamos fazer como município — detalha Canci.
A prefeitura de Santa Tereza está fazendo reuniões com equipe técnica e a população para alinhar a reconstrução da cidade. Segundo Gisele, 24 casas já foram doadas pelo governo do Estado e outras serão construídas para aquelas pessoas que vivem em área de risco.
— Nenhuma família que mora em área de risco, ribeirinha, perto de encostas, será permitido voltar para a casa anterior. Estamos estudando desapropriações de terras em áreas que não foram atingidas e ali serão construídas casas para essas pessoas. Vamos ter reunião com a comunidade do interior para ajudar os produtores e avaliar como refazer as lavouras.
Hora de agradecer e rezar
Para a cidade de Irani, momentaneamente, Gisele ressalta que é possível apenas agradecer e rezar:
— Eu acho que tudo se resume em gratidão para o quanto a solidariedade se faz presente neste momento. Ratifico as palavras que disse ao prefeito, desejo um encontro num momento de felicidade, mas o que eu posso retribuir agora é por meio de orações, para que Deus permita que a cidade prospere, designar muita saúde às pessoas para continuarem com esta força.
A iniciativa de Irani, segundo Gisele, despertou também o olhar de Pinhalzinho, outro município do oeste catarinense. A prefeitura de lá já sinalizou a possibilidade de ajudar e está fazendo um levantamento de recursos para destinar a Santa Tereza.
O município de Irani arrecada anualmente R$ 55 milhões. A atividade é predominantemente agrícola, com muitas estradas de chão pelo interior do município. Algumas também foram atingidas pela chuva e estão passando por reconstrução, mas, segundo ele, não chega a um terço da destruição de Santa Tereza. O prefeito afirma que financeiramente a cidade catarinense tem menor poder aquisitivo do que a gaúcha, mas o povo é acolhedor e neste momento deseja ajudar.