O que aconteceu com Millena Brandão? Entenda o caso da atriz mirim que sofreu 12 paradas cardíacas
Especialistas apontam que o diagnóstico tardio e o quadro neurológico grave podem ter sido determinantes para a morte de Milena Brandão.

A morte cerebral da atriz mirim Millena Brandão, confirmada na sexta-feira (2), após dias internada no Hospital Geral de Grajaú, em São Paulo, tem gerado comoção e dúvidas. A menina de 11 anos, conhecida por atuar na novela A Infância de Romeu e Julieta, do SBT, sofreu 12 paradas cardíacas em sequência antes da confirmação do óbito. Ela havia sido diagnosticada com um tumor cerebral de 5 centímetros e, inicialmente, tratada para dengue — o que atrasou o diagnóstico correto.
Conforme explicou a neurologista Ana Carolina Gomes, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, ao Estadão, tumores volumosos dentro do crânio podem causar aumento da pressão intracraniana. Como o cérebro está em um espaço rígido e fechado, essa pressão pode comprimir o tronco cerebral — região que controla funções vitais como batimentos cardíacos e respiração —, levando a paradas cardíacas. Ainda assim, o número de episódios vividos por Millena é considerado extremamente incomum, principalmente em uma criança.
O que levou às paradas cardíacas?
Segundo especialistas, seria necessário acessar o prontuário médico completo para entender com precisão o que levou a esse quadro clínico tão severo. Alterações cardíacas, infecções, doenças metabólicas, distúrbios eletrolíticos e até crises graves de epilepsia podem estar entre os fatores agravantes.
A decisão de tentar a reanimação por 12 vezes, segundo os médicos ouvidos pelo Estadão, só é tomada quando há sinal de reversibilidade. “A equipe médica só mantém a reanimação quando há sinal de resposta. Não há um número absoluto de tentativas. Tudo depende da avaliação clínica em tempo real”, afirmou a neurologista Viviane Sonaglio.
Crianças, em geral, têm maior capacidade de recuperação do que adultos. No entanto, cada reanimação representa também uma nova sobrecarga ao cérebro. Por isso, os profissionais também avaliam, durante o processo, se ainda existe chance real de recuperação ou se as manobras apenas prolongam um processo irreversível.
Diagnóstico difícil e sintomas vagos
O caso de Millena reacende a discussão sobre o diagnóstico precoce de tumores cerebrais em crianças. Os primeiros sintomas — como dor de cabeça, náusea, alterações de visão e sonolência — são facilmente confundidos com doenças comuns da infância. Em crianças menores, o desafio é ainda maior, pois elas nem sempre conseguem expressar o que sentem.
“A criança passa por atendimentos pontuais, com médicos diferentes, e o histórico se perde. Isso atrasa o diagnóstico e dificulta o tratamento”, lamenta Sonaglio.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a maioria dos tumores pediátricos surge sem uma causa identificável. Apenas 10% estão ligados a síndromes genéticas hereditárias. Os tipos mais comuns em crianças incluem meduloblastoma, astrocitoma pilocítico e ependimoma — cada um com características distintas e impacto direto no comportamento e nas funções cerebrais.
Millena: vida e carreira interrompidas precocemente
Millena era modelo, atriz e influenciadora digital. Começou sua carreira artística em 2020 e, desde então, participou de campanhas publicitárias e projetos televisivos. Nas redes sociais, compartilhava seus trabalhos e o dia a dia com leveza, sempre expressando amor por moda, natureza e animais.
A nota do Hospital Geral do Grajaú confirmou a morte encefálica às 16h55 da sexta-feira (2), após rígido cumprimento dos protocolos médicos. “A paciente recebeu cuidados intensivos e todo o empenho da equipe médica e assistencial, que não mediu esforços para preservar sua vida”, afirmou o hospital.
A história de Millena evidencia como a combinação de sintomas inespecíficos e a falta de continuidade nos atendimentos pode atrasar diagnósticos que exigem urgência. E levanta uma importante reflexão sobre a atenção aos sinais do corpo, especialmente na infância.
Com informações: Estadão / INCA
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