O que explica o aumento do preço da carne pelo terceiro mês consecutivo
Maior aumento entre os cortes bovinos foi registrado no patinho, com inflação de 19,63%.
No mês de novembro, a carne ficou mais cara pelo terceiro mês seguido. A alta foi de 15,43% se considerado o acumulado dos últimos 12 meses, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nessa terça-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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Após um ano e meio de queda na inflação da proteína bovina, o produto voltou a registrar aumento a partir de setembro de 2024. O maior aumento, entre os cortes bovinos, foi registrado no patinho, com inflação de 19,63% no acumulado dos 12 meses.
Em seguida aparecem o acém (18,33%), o peito (17%) e o lagarto comum (16,91%). Somente o fígado ficou mais barato, com queda de 3,61% no período. Levando em conta a variação mensal, as carnes tiveram uma alta de 8,02%, sendo essa a maior elevação desde dezembro de 2019, quando o produto atingiu 18,06%.
O que explica a alta nos preços
Economistas apontam que quatro principais fatores explicam a alta nos preços: o ciclo pecuário, o clima, as exportações e a renda. Esses mesmos fatores projetam que a alta deve continuar no ano de 2025, podendo se estender até 2026.
Dias após o acordo comercial firmado entre a União Europeia e o Mercosul, na última sexta-feira (6), o IPCA foi divulgado. A carne vendida para o bloco europeu terá redução de tarifas, segundo o acordo. Ainda não há uma previsão de quando a medida entrará em prática, e o texto deve passar por revisão, tradução, assinatura e ratificação antes disso.
Motivos para aumento do preço da carne
O coordenador do mestrado profissional em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Felippe Serigati, explica que o ciclo da pecuária é composto por períodos de alta, quando há uma expectativa de preços mais elevados dos bezerros e aumento nas cotações, e de baixa, quando as projeções do preço do bezerro começam a cair e um volume maior de fêmeas vai para o abate, aumentando a quantidade de carne no mercado.
Enquanto que no último um ano e meio o Brasil esteve em um momento de grande volume de abate de bois e vacas, atualmente o ciclo está na fase oposta, com menos animais disponíveis. Assim, o preço do bezerro é elevado.
— Há, portanto, uma perspectiva de diminuição da produção de carne lá na frente. Então, em 2025, a gente deve ver os preços da carne bovina mais pressionados [ou seja, mais altos] — destaca Serigati.
— Os bezerros vão começar a nascer no ano que vem, vão desmamar em 2026, e se tornarem boi gordo lá em 2027, 2028 — complementa Thiago Bernardino de Carvalho, responsável pela área de pecuária no Cepea/USP.
A alta dos preços também sente os impactos da maior seca da história recente do Brasil e das queimadas. Isso porque esses fatores prejudicam a produção do pasto, principal alimento do gado no país.
Assim, o pecuarista costuma confinar o gado para engordá-lo com ração, o que aumenta os custos. Porém, como os preços do boi gordo ficaram em baixa boa parte deste ano, os produtores decidiram não fazer esse investimento.
O Brasil tem batido recordes de exportação da proteína, impulsionado por uma grande demanda externa por carne. Com o aumento das exportações, a quantidade de carne disponível no mercado interno cai, o que faz o preço aumentar para os brasileiros.
— Por que nós estamos exportando volumes recordes? Porque outros fornecedores de carne bovina não estão conseguindo atender a demanda externa. A Austrália está recompondo o seu rebanho bovino. Os Estados Unidos estão no seu menor rebanho desde 1950. A Argentina está voltando agora para o mercado — comenta Serigati.
Com as compras de carnes em alta, o preço também aumenta. Essa tendência de compra é impulsionada pela renda e pela situação econômica, como explica o especialista. No Brasil, as compras de carnes também estão aquecidas e isso contribui para manter os preços da proteína em alta.
— A taxa de desemprego está lá embaixo, a remuneração média está aumentando e a população ocupada está crescendo. Houve ainda uma política de valorização do salário mínimo, e reajustes de uma série de benefícios sociais, como a Previdência, BPC [Benefício de Prestação Continuada], Bolsa Família, seguro-desemprego. Isso é mais renda chegando — afirma Felippe Serigati.
— E o bifão é a preferência nacional. Se [o brasileiro] tiver dinheiro no bolso, ele vai preferir consumir carne bovina — completa.