SC tem 38% dos idosos com a vacina de reforço da Covid-19 em atraso

Desinformação e desconfiança fomentada por mentiras são causadores do atraso.

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Idosos que não foram vacinados ou não possuíam o esquema vacinal completo tem 47 vezes mais chances de morrer em decorrência da Covid-19
Idosos que não foram vacinados ou não possuíam o esquema vacinal completo tem 47 vezes mais chances de morrer em decorrência da Covid-19 - Imagens: Leo Munhoz/ND

Santa Catarina tem 38,4% dos idosos com a vacina de reforço da Covid-19 em atraso, ou seja, não voltaram para a terceira aplicação após os quatro meses de intervalo. Vale ressaltar que pessoas com mais de 60 anos poderiam receber a 3ª dose já a partir de setembro do ano passado no Estado.

De acordo com os dados do Vacinômetro SC, o número representa mais de 426 mil pessoas dessa faixa etária que estão com a vacina de reforço em atraso e expostos a infecções mais graves pelo coronavírus.

Por outro lado, 1.111.674 idosos completaram o esquema vacinal primário de duas doses ou dose única, mas apenas 685 mil receberam a terceira dose do imunizante no Estado.

Para o superintendente de Vigilância em Saúde de Santa Catarina, Eduardo Macário, e a presidente da SBGG/SC (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), Juliane Ferrari, quatro fatores influenciam o comportamento dos idosos para que o índice de vacinação com a terceira dose esteja abaixo do esperado: falta de orientação, desconfiança da tecnologia das vacinas, dificuldade de acesso e propagação de mentiras.

Os médicos afirmam que esses aspectos precisam ser conversados com as pessoas de mais idade para mudar a percepção sobre a vacinação e garantir a imunização completa do grupo.

Orientação para retorno da vacinação

A data estipulada para a terceira dose ainda não era uma certeza quando o público a partir dos 60 anos foi imunizado com as duas primeiras vacinas. De acordo com Macário, esse motivo contribuí para a baixa cobertura do reforço entre os idosos.

“Eles têm pouca informação sobre a necessidade de voltar para fazer a dose de reforço quatros meses depois da ‘D2’ porque as unidades de saúde não orientaram para o retorno naquele período da segunda dose”, contextualiza o superintendente.

A geriatra Ferrari relata que algumas pessoas que tiveram acesso à informação sobre a terceira dose acham que simplesmente não precisam do reforço pois já tomaram as duas primeiras injeções.

No início da campanha vacinal, as duas doses eram indicadas como imunização completa pelas empresas farmacêuticas e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), dose única no caso da Janssen. Entretanto, a ciência comprovou com o avanço das pesquisas que a dose adicional favorece ainda mais o fortalecimento do sistema imunológico, inclusive contra a variante Ômicron.

Confiança nas vacinas e na ciência

A tecnologia moderna dos imunizantes ainda é pouco familiar para a maioria dos idosos, o que gera uma insegurança entre eles segundo a presidente da SBGG/SC. Entretanto, a médica garante que não há o que temer.

“Nenhuma vacina aplicada agora é experimental, foram feitos muitos estudos. Está provado que a vacina diminui a mortalidade pelo vírus e o número de hospitalizações, principalmente entre o público idoso”, reitera a profissional.

Conforme estudo da Dive/SC (Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado), as mortes entre as pessoas mais velhas que não foram vacinadas ou não possuíam esquema vacinal completo foi 47 vezes maior que de idosos vacinados com três doses em Santa Catarina.

Idosos que não foram vacinados ou não possuíam o esquema vacinal completo tem 47 vezes mais chances de morrer em decorrência da Covid-19
Idosos que não foram vacinados ou não possuíam o esquema vacinal completo tem 47 vezes mais chances de morrer em decorrência da Covid-19 - Imagens: Leo Munhoz/ND

Essa vulnerabilidade do organismo das pessoas mais velhas acontece porque a resposta imunológica é menor. “É um processo natural decorrente do envelhecimento, mas os riscos acabam sendo maiores”, explica a médica.

Outro medo que impede os idosos de completar o esquema vacinal é relacionado aos possíveis efeitos adversos, como febre, mal-estar e dores musculares, que podem acontecer mas tendem a ser pontuais.

“Apesar da possibilidade de acontecer algum efeito colateral leve, eles são muito menores e menos graves do que as consequências da própria doença. É pesar os riscos e os benefícios”, esclarece Ferrari.

Acessibilidade aos locais de vacinação

Muitos idosos possuem dificuldade de locomoção e são dependentes de outras pessoas para maiores deslocamentos. Ir à unidade básica de saúde não é tão simples para acamados, deficientes físicos e pessoas que moram só.

“É fundamental que os municípios façam esquemas de comunicação, verificando como estão essas pessoas. Preferencialmente fazendo a vacinação nas residências e postos de saúde frequentados por eles”, aponta o superintendente em Saúde.

Cuidado com informações falsas

A circulação de mentiras e notícias que parecem verídicas, mas não são, também influenciam negativamente na hora dos idosos se vacinarem. Isso é um consenso entre os profissionais da saúde, que alertam para as fontes de mensagens e vídeos duvidosos.

“Eles são vítimas de avalanches de fake news e confundem as informações sobre efeitos colaterais e confiabilidade das doses”, confirma Macário. Boatos deixaram idosos com medo da aplicação das vacinas, da forma como foram produzidas e de como o organismo recebe o imunizante.

A presidente da SBGG/SC orienta que, para tirar qualquer dúvida. Essas pessoas conversem com sua equipe da saúde e médicos de confiança. que podem ajudar indicando notícias e pesquisas confiáveis, que estão de acordo com a ciência.

Cenário epidemiológico com baixa imunização

Mesmo que apenas parte da população idosa não tenha recebido a dose de reforço, o superintendente em Saúde alerta que a cobertura vacinal impacta diretamente no cenário epidemiológico do Estado.

“Agora temos uma alta transmissibilidade da Covid-19, da variante Ômicron. Se não houver uma proteção maior desse público mais vulnerável, nós podemos ter uma alta nas hospitalizações nas UTIs e um aumento nos óbitos, considerando que o coronavírus tem alto potencial de letalidade”, admite Macário.

Fonte:

ND Online

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