Ciência recria o lobo-terrível, extinto há mais de 10 mil anos
Animal ficou famoso na série Game of Thrones e agora vive em centro de preservação nos Estados Unidos

A realidade ultrapassou a ficção: o lobo-terrível, espécie extinta há mais de 10 mil anos e que ganhou fama mundial como mascote da família Stark na série Game of Thrones, voltou a caminhar sobre a Terra. O feito inédito foi realizado pela startup americana Colossal Biosciences, que apresentou ao mundo três novos exemplares da espécie.
Batizados de Remus, Romulus e Khaleesi, os animais são resultado de um complexo processo de engenharia genética. A startup analisou fósseis com DNA preservado – incluindo dentes de 13 mil anos e um crânio com 72 mil anos – e, com o uso da tecnologia CRISPR Cas-9, reescreveu o código genético do lobo-cinzento para transformá-lo no temido lobo-terrível. Cães domésticos foram utilizados como "barrigas de aluguel", gestando os filhotes em sigilo. Hoje, os animais vivem em um centro de preservação da vida selvagem nos Estados Unidos, cuja localização é mantida em segredo.
Os lobos-terríveis (ou dire wolves, no original em inglês) eram predadores de até 80 quilos que viveram nas Américas e caçavam presas como bisões antigos e até mesmo mastodontes. Apesar de não serem maiores que os lobos-cinzentos, eram considerados altamente letais. Fósseis da espécie já foram encontrados em países como Venezuela, Estados Unidos e Canadá.
Segundo a revista Time, que visitou o centro de preservação, os filhotes mostram comportamento selvagem e mantêm distância até dos próprios cuidadores. Para os cientistas, isso é um bom sinal: indica que os instintos naturais da espécie permanecem fortes.
Além dos lobos-terríveis, a Colossal já está trabalhando para trazer de volta outras espécies extintas, como o mamute-lanoso, o dodô e o tigre-da-Tasmânia. Em março deste ano, a empresa surpreendeu a comunidade científica ao anunciar a criação de um "rato lanoso", animal com características genéticas do mamute.
Atualmente, a Colossal conta com cerca de 130 cientistas e está avaliada em 10 bilhões de dólares. Seus fundadores defendem que o conhecimento adquirido com essas recriações pode ajudar na preservação de espécies ameaçadas. O renascimento do lobo-terrível, por exemplo, pode contribuir para evitar a extinção do lobo-vermelho. Já os estudos sobre o mamute podem ser usados para desenvolver elefantes mais resistentes às mudanças climáticas.
Apesar do avanço científico, o projeto levanta questões éticas importantes. O uso de fêmeas de outras espécies como gestantes pode causar sofrimento e até morte. Além disso, a reintrodução de animais extintos em ecossistemas modernos pode ter consequências imprevisíveis.
Ainda assim, os responsáveis pelo projeto acreditam que essa pode ser uma das formas mais eficazes de combater a perda da biodiversidade. Estima-se que até 30% da diversidade genética do planeta esteja ameaçada de desaparecer até 2050, segundo o Center for Biological Diversity, nos Estados Unidos.
O lobo-terrível, antes um personagem da ficção, agora vive entre nós – um símbolo das possibilidades e dos desafios da ciência moderna.
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