Joaçaba vista por olhos centenários
As curiosidades do município que completa 97 anos nesta segunda-feira.

As curiosidades do município que completa 97 anos nesta segunda-feira. E a visão de quem conheceu Joaçaba quando tudo era bem diferente.
Uma pacata vila, cercada pelo verde das matas e cortada pelo formoso e límpido Rio do Peixe. Ruas estreitas e de chão batido, na maioria das vezes cruzadas apenas pelos pedestres e cavaleiros com seus cavalos, alguns veículos raramente rompiam a tranquilidade. Assim foi a visão de Joaçaba no ano de 1945 pelo então professor José Bogoni. Atualmente, prestes a completar 100 anos de idade no mês de novembro, seu José lembra com clareza da época que viu a cidade pela primeira vez. Morando em Herval d´Oeste, o quase centenário mantém uma lucidez e uma memória que impressionam. Utilizando um andador para se mover, tem essa como uma das poucas limitações que tantos anos de vida lhe colocaram. Filho de imigrantes italianos que se estabeleceram no Rio Grande do Sul, a história de sua família se funde de maneira íntima como a povoação do vale que hoje habitamos e da cidade que nascemos ou escolhemos para morar. Foi em 1926 que seu pai reuniu todos e decidiu que aqui seria o melhor lugar para viver. -Devido as dificuldades que encontrou no Rio Grande do Sul minha família veio então para a Vila de Perdizes, hoje Videira. Erámos em 16 irmãos e uma parte veio em carroças puxadas por mulas e levaram oito dias para chegar. Eu vim com eles até uma altura, depois em Sananduva vim com o caminhão da mudança e em Marcelino Ramos pegamos um trem de manhã cedo pra completar o trecho. Mas foi um tempo muito difícil por que aqui tivemos que recomeçar tudo. Imagine que foram necessários mais de três meses para fazer uma casa no terreno e ainda era só um pedaço de terra que tinha que ser trabalhada. Mas foi somente na década de 40 que seu José conheceu a cidade de Joaçaba. -Em 1945, quando eu era professor em Tangará, vim atender um chamado de meus superiores aqui em Joaçaba. Foi a primeira vez que vim. Na época não existiam prédios, como esse do Pedrini (edifício na avenida XV de Novembro) era capoeira ali. Na frente tinha um hotel, onde tem a Caixa Econômica. Mas todo mundo conhecia a cidade ainda como Cruzeiro do Sul, não era Joaçaba oficial. Outra lembrança de seu José é da intensa movimentação dos trens do outro lado do rio, onde hoje é Herval d´Oeste. -Na época tinha os trens e era muito bom, uma condução mais rápida, fácil e barata. Daqui você ia para Erechim, Porto Alegre e para outros lugares. A realidade que seu José conheceu e vivenciou em todos esses anos de história, exatamente 97 nesta segunda-feira, 25, se modificou bastante, mas é preciso conhecer o passado para compreender como chegamos até aqui. Tudo começou do lado de Herval Para a surpresa de muitos, antes de ser um município, o desenvolvimento de Joaçaba começou do lado de Herval d´Oeste. A afirmação é do professor e mestre em história Rogério Augusto Bilibio, que pesquisou as origens da cidade. -O núcleo urbano aqui onde hoje estão Joaçaba e Herval surge a partir da finalização do trecho catarinense da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande, que acontece entre 1909 e 1910, e em função da parada do trem é que acontece o maior movimento urbano. Já havia habitantes antes disso, mas eram pequenos lavradores vivendo distantes uns dos outros. A partir daí é que surge um agrupamento urbano do lado de Herval d´Oeste e maior movimento de pessoas e comércio, em torno disso é que vai se estruturando a cidade. Mas somente na década de 20 é que começam a ser comercializados os lotes de terras. Então podemos perceber nitidamente que nos anos 20 e 30 o núcleo urbano de Herval d´Oeste é bem mais desenvolvido que o de Joaçaba, o que se nota especialmente pelas fotografias da época. A virada nesta história e o desenvolvimento do núcleo urbano de Joaçaba como existe atualmente teve na visão arrojada de industriais seu ponto definitivo. E o que nos dias de hoje é algo comum na vida de todos fez a diferença para atrair pessoas e investimentos. -A partir dos anos 30 e início dos anos 40 vários industriais de descendência alemã começam a montar suas fábricas onde hoje é a margem do Rio do Peixe no lado de Joaçaba, alguns deles montam pequenas centrais hidrelétricas e com isso Joaçaba se torna uma das poucas cidades do Oeste catarinense que possuiu a luz elétrica. Nas minhas pesquisas notei isso de maneira muito forte quando perguntamos por que as famílias vieram do rio Grande do Sul e se fixaram em Joaçaba, a resposta era justamente a questão da energia elétrica. Hoje seria ridículo pensar assim, mas nos anos 40 era um privilégio. Foi ai então que Joaçaba começa um desenvolvimento muito rápido, principalmente com a instalação dos moinhos nos anos 50, quando se torna definitivamente um polo regional e até a década de 70 se mantém como a cidade que mais se desenvolve na região e lidera a economia em todo o Oeste – Explica o professor. E a encruzilhada? Até a definição do nome atual Joaçaba foi Cruzeiro e Limeira. Mas até hoje ainda existem dúvidas em torno da escolha de um nome que na língua Guarani significa “encruzilhada”. -O nome Joaçaba significa “encruzilhada” na língua Guarani, foi dado em 1943, dentro de um programa criado pelo governo Vargas que valorizava a identidade brasileira. Até então o nome era Cruzeiro. Não se sabe exatamente se existe uma encruzilhada ou se foi simplesmente achado por ser de origem indígena e atender os desejos da politica da época. Sendo assim é um nome bem peculiar, que pode ser motivo de orgulho para sua população. Joaçaba e seus vários filhos Outro dado histórico curioso é que de Joaçaba nasceram vários municípios que compõe a região, inclusive alguns que hoje em termos de população e extensão territorial são maiores. Um exemplo é Concórdia, que se desmembrou de Joaçaba em 1937. -No dia 25 de agosto de 1917 são criados quatro municípios em Santa Catarina, Chapecó, Joaçaba, Mafra e Porto União. Na época, Chapecó e Joaçaba, com suas extensões territoriais, compunham toda a região Oeste catarinense. Joaçaba tinha então aproximadamente 30 mil quilômetros quadrados, mas vai perdendo estes territórios num período de 30 a 40 anos. No cinquentenário de Joaçaba, em 1967 podemos perceber Joaçaba quase igual ao que é hoje em termos territoriais. Joaçaba gerou 26 municípios, que depois geraram outros tantos.
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