‘Perdi minha vida’: namorada de médico da região que morreu em tragédia do balão desabafa e pede justiça
Tassiane Francine Alvarenga também estava no balão, mas conseguiu se salvar.

“Eu perdi minha vida. Falo isso porque esse cara me deu a vida novamente. Lá atrás, quando a gente se conheceu e agora quando nos separamos”. É assim que Tassiane Francine Alvarenga, de 30 anos, inicia uma homenagem emocionada ao namorado Andrei Gabriel de Melo, de 34 anos, o médico oftalmologista que morreu após a queda de balão em Praia Grande, no Sul de Santa Catarina.
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A queda de balão aconteceu na manhã do último sábado (21) e resultou na morte de oito pessoas, outras 13 conseguiram se salvar. Entre as sobreviventes está Tassi, que, apesar de estar viva, diz que parte dela morreu com o namorado e que no momento quer lutar por justiça e para que os responsáveis sejam responsabilizados.
Em entrevista ao ND Mais, Tassi, que é secretária e moradora de Campos Novos, no Meio-Oeste do estado, contou detalhes do dia que classificou como o pior de sua vida.
“Naquele dia, parando para pensar hoje, tinha tudo para dar errado. Fomos em um primeiro ponto e não foi possível voar de lá, então fomos para outro ponto muito mais longe. Quando chegamos, todos os outros balões já estavam no céu. O nosso foi o último, o que hoje eu percebo que já estava atrasado”, disse.
Segundo Tassi, foi difícil tirar o balão do chão e havia muito vento no momento. “Por esse motivo acredito que houve negligência da empresa. Nós, leigos, só estávamos ali para realizar o passeio, confiamos na experiência deles pare que nos orientassem de forma correta e prudente”, acrescentou.

Tassi e Andrei tinham o sonho de fazer o passeio de balão juntos, mas não imaginavam o desfecho que ele teria. Quando o balão subiu e fogo iniciou, Tassi disse que não conseguiu ver, mas escutou quem estava perto falar e quando percebeu todos estavam apavorados, inclusive o piloto.
“Não sei ao certo o que queimou, não vi extintor. Somente lembro que o piloto queria tirar o que pegava fogo e jogar para fora. Todos ofereceram as blusas para abafar o fogo e pediram para ele pousar, mas ele não aceitou o pedido das pessoas para descer antes e as jaquetas para abafar”, recordou.
Porém, na visão de Tassi, o pouso demorou. Ela diz não lembrar sobre o piloto ter falado para pular. “Lembro que avisou sobre o impacto e disse para nos segurarmos, fato que fez com que a maioria das pessoas se abaixassem”.
Conforme ela, quando o balão caiu, ao mesmo tempo que foi um impacto muito grande, o fogo também já estava muito alto. “Eu acredito que fui arremessada no impacto, mas precisei juntar forçar para sair do caminho do balão, mesmo assim ele passou por cima de mim”, contou.
Tassi diz que não entende porque o namorado não conseguiu sair. “Gritei por ele muitas vezes e não o encontrei”.
Após a queda de balão, Tassi disse que só viu o piloto quando o micro-ônibus da empresa chegou para buscar os sobreviventes. “Recolheram os sobreviventes que restaram. O piloto estava ali, limpo, diferente de todas as outras vítimas. Eu fui até ele e pedi onde estava o Andrei, ele não teve reação e me deu as costas”, citou.
Na opinião de Tassi, o piloto sabia o que tinha feito, que não soube gerenciar a crise e não foi até o fim para salvar os inocentes que ficaram no balão sem recurso. “Confiamos nele as nossas vidas e agora eu só quero justiça”.
“Perdi minha razão”, diz após perder namorado em queda de balão
“Tive escoriações e alguns machucados… meu corpo não quebrou, mas a minha alma e meu coração foram com você. Vou sobreviver como posso, porque sei que você pensou em me salvar. Eu vivi, mas eu morri também. Espero te encontrar em outra vida, porque o nosso amor não acabou”, desabafou em uma publicação em seu perfil no Instagram.
Tassi descreveu Andrei como um homem lindo, inteligente, bondoso, ético, pródigo, bom filho, bom irmão e tantas outras qualidades que se perderia em falar.
“Tínhamos tantos planos… nossos filhos, nossos gatos, nossa casa, nosso apartamento, parafraseando a música. Não foi possível realizar. Fico feliz que você tenha conhecido a “nevinha” que você amava tanto e ela te amava também. Eu escrevo e choro, eu escrevo e penso, “meu Deus ontem estávamos tão bem” e hoje e só tristeza e dor”, lamentou.
“Não sei se eu quero viver nesse mundo sem você e o teu amor. O nosso cuidado era tanto que não “nos perdíamos de vista”. Mas hoje quando eu me dei por conta estava sozinha e quando eu perdi ele de vista eu sabia que tinha perdido o amor da minha vida”.
O que diz a defesa da empresa e do piloto?
O advogado Clovis Raupp Scheffer, que representa a empresa Sobrevoar — responsável pelo voo — e o piloto Elves de Bem Crescêncio, afirmou ao ND Mais que a empresa deve entrar em contato com os envolvidos no acidente com o balão entre esta terça e quarta-feira.
Segundo ele, o contato ainda não havia sido realizado em respeito aos atos fúnebres das vítimas que perderam a vida na tragédia.
Em depoimento à Polícia Civil, o piloto do balão que caiu em Praia Grande, Elves de Bem Crescêncio, informou que o fogo iniciou no cesto e, rapidamente, espalhou-se.
“Ali com algo em torno de dois, três minutos de voo, eu sinto um cheiro de queimado dentro do cesto, quando eu olho para baixo, a capa do tanque de gás tinha um início de incêndio. Peguei o extintor que tem no balão, tirei o lacre, a hora que apertei, não saiu nada de pó”, declarou o piloto.
O profissional relatou que, mesmo assim, tentou apagar o fogo. “Se alastrou muito rápido. Afrouxei o tanque, afrouxei a cinta de cima, tirei a mangueira, tentei arrancar…”, disse, com a voz embargada. “A hora que o balão veio para pouso, eu falei: ‘pessoal, a hora que pousar, todo mundo pula’”, acrescentou.
Fonte: ND+
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