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Foto: Redes sociais
Estado

“Que ninguém mais viva o que estamos vivendo”, desabafa irmã de vítima da tragédia com balão

Andréa Melo fez publicação nas redes sociais e cobrou responsabilização e mais empatia das pessoas.

Luan

Luan

Foto: Redes sociais

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Prestes a completar duas semanas de uma das tragédias que mais abalou o Estado, a irmã de uma das vítimas publicou um longo e emocionante desabafo sobre o caso nas redes sociais. Andréa Melo é irmã de Andrei Gabriel de Melo, médico oftalmologista de Fraiburgo. Ele e outra sete pessoas morreram após um balão de ar pegar fogo e cair em Praia Grande, no sul de Santa Catarina.

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No texto, que você pode ler na íntegra ao fim desta reportagem, Andreia lamenta a falta de empatia das pessoas e cobra responsabilização pelo acidente. Ela lembrou que a atividade é desempenhada sem regulamentação até o momento. "Eu vejo um governo omisso, um município preocupado com a queda na arrecadação, hotéis desesperados", escreveu.

Andréa, que é jornalista, criticou aquelas pessoas que publicaram nas redes sociais, pouco após o acidente, imagens voando de balão e comentando que o passeio delas ocorreu sem intercorrências. Ela ressaltou também que há quem teça comentários insensíveis. "Ninguém entraria num balão se soubesse que o pilto seria o primeiro a abandonar o 'barco", disse.

Por fim, ela desabafou pela dor que estão sentindo, dizendo ainda que as famílias das vítimas que morreram no local nunca mais serão as mesmas. "Que ninguém mais viva o que estamos vivendo, porque amanhã o sensacional e o incrível podem sair do seu vocabulário e você passará a adotar palavras desconhecidas como dor e saudade".

Leia:

Na Era da Gratidão eu percebo uma humanidade doente.
Há 14 dias, oito pessoas, entre elas meu irmão Andrei, perderam a vida no que era para ser uma experiência incrível, como vejo muitos relatando.
Hoje, em meio à saudade, eu entendo que existe toda uma cadeia produtiva que vive dessa atividade — até então, sem regulamentação.
Eu vejo um governo omisso, um município preocupado com a queda na arrecadação, hotéis desesperados com o nível de hospedagem caindo, restaurantes sem movimento, quedas no faturamento na mesma velocidade que um balão pegando fogo, com o meu irmão dentro, se espatifou ao chão. É o preço do despreparo.
Eu vejo a maldade e o egoísmo em comentários: “Foram porque quiseram, não entraram obrigados”. Sim, há um livre-arbítrio nas nossas escolhas diárias — nas mais bestas, como o que comer no café da manhã, que roupa vestir, até as que exigem de nós noites maldormidas.
Mas ninguém, em sã consciência, entraria num balão se soubesse que o piloto seria o primeiro a abandonar o ‘barco’ e que sequer tinha licença para isso.
Ninguém entraria em um carro se o condutor relatasse: “Olha, não tenho CNH, mas posso aprender no caminho”; em um avião sem piloto devidamente habilitado, com X horas de voo e sem passagem por uma academia.
Ninguém entraria se fosse advertido: “Em caso de emergência, salve-se quem puder”.
O mundo não para pelo nosso sofrimento.
Eu sei que aviões caem, acidentes acontecem, mas nenhuma dessas mortes resulta de uma atividade não regulamentada.
De algo mais ou menos assim: “Olha, assina aqui. Só que eu não tenho certeza se o extintor vai funcionar em caso de incêndio. Não tenho um plano B em caso de queda. Eu só sei que eu vou pular, e você, se não conseguir, fica à deriva, tá? Ah, se cair, não tem bombeiro por perto. Mas, mesmo assim, você pode contar com a sorte de…”.
Enquanto isso, o que eu vejo é tanta gente relatando: “Para mim foi incrível e, se pudesse, iria de novo”, gente conhecida postando no mesmo dia do acidente: “Sensacional”, e pouca gente consciente e empática.
E se fosse na sua família? Seria mesmo uma experiência incrível perder seu irmão, seu filho, seu pai, sua mãe, seu amor? Isso eu duvido.
Por não ter problema de visão, eu nunca consultei com o meu irmão, que era oftalmologista. Mas hoje eu enxergo da mesma forma que seus pacientes.
Eu espero, sinceramente, que o mundo volte a ver e saiam para a vida como se estivessem saindo do consultório dele, enxergando.
Todos pagam o preço do despreparo. Mas a dor é só das oito famílias, que, assim como a minha, nunca mais serão as mesmas.
Que ninguém mais viva o que estamos vivendo, porque amanhã o “sensacional” e o “incrível” podem sair do seu vocabulário e você passará a adotar palavras desconhecidas como dor e saudade.


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