Elis Regina era uma mulher de excessos. Excessivamente talentosa, excessivamente sedutora, excessivamente temperamental. Tão intensa que logo após o anúncio de sua morte, às 12h do dia 19 de janeiro de 1982, em São Paulo, brotou nos muros acinzentados do país a frase Elis vive. Nesta quinta-feira faz 30 anos que a cantora partiu num rabo de foguete em consequência de uma overdose de álcool e cocaína. A inesperada notícia da morte da Pimentinha, aos 36 anos e no auge da carreira, comoveu o país.
Elis era uma mulher de revelações. Até na sua morte. A intérprete de voz aveludada era tida pela crítica como uma cantora da elite, o que se mostrou um equívoco. Quando o carro de bombeiros cruzou a cidade de São Paulo com o corpo da cantora, rumo ao cemitério do Morumbi, milhares de pessoas foram às ruas se despedir da pequena de voz grande. Outras manifestações semelhantes só foram vistas no funeral de Carmen Miranda (1955), Orlando Silva (1978) e Ayrton Senna (1994).
— Elis tinha a voz limpa e com uma espetacular extensão de recursos. Ela tinha um emoção estúpida ao se apresentar— comenta a jornalista Regina Echeverria, que de tantas entrevistas se tornou amiga da cantora e escreveu Furacão Elis, livro que acaba de ter sua quarta edição revista e ampliada lançada pela editora Leya.
Dona de suas verdades, ela não se escondia, dava todo o dia a cara a tapa num período em que o Brasil estava aos pedaços, vitimado por uma ditadura militar.
Elis era cantora e não uma militante. A intérprete de O Bêbado e a Equilibrista, elevado à condição de hino contra a ditadura, não era engajada na luta pela democracia, tanto que foi parar no Cemitério dos Mortos Vivos, espaço criado pelo cartunista Henfil, no Pasquim, para enterrar os alienados e os defensores do imperialismo.
Elis era Elis. Suas interpretações não eram para ser ouvidas, mas degustadas com os ouvidos. Autodenominada camicase não mediu o risco para viver. Nem para morrer
Cronologia
17 de março de 1945 – nasceu no Hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre
anos 1950 – começou a cantar no programa Clube do Guri, na Rádio Farroupilha, apresentado por Ary Rego
1959 – assinou contratado com Maurício Sirotsky Sobrinho, fundador da RBS, para ser atração no Programa Maurício Sobrinho, na Rádio Gaúcha
1960 – gravou seu primeiro compacto, pela Continental, aos 15 anos
1961 – gravou o primeiro LP, Viva a Brotolândia
1962 – gravou o segundo LP, Poema
1963 – gravou os discos Elis Regina e Bem do Amor, pela Columbia (CBS)
março de 1964 – mudou-se para o Rio de Janeiro
maio de 1965 – estreou no programa semanal Fino da Bossa, da Record, ao lado de Jair Rodrigues
7 de dezembro de 1967 – casou-se com o compositor e produtor Ronaldo Bôscoli, no Rio
1970 – nasceu seu primeiro filho, João Marcello
11 de maio de 1972 – ela e Ronaldo pediram o desquite
1974 – lançou Elis & Tom, gravado em Los Angeles em parceria com o maestro Tom Jobim
1975 – nasceu Pedro, seu filho com o músico e arranjador Cesar Camargo Mariano
1975 – lançou Falso Brilhante, considerado seu principal disco
1977 – nasceu Maria Rita, também sua filha com Cesar Camargo Mariano
1981 – separou-se de César Camargo Mariano e iniciou um romance com o advogado Samuel MacDowell
19 de janeiro de 1982 – morreu no Hospital das Clínicas, em São Paulo, aos 36 anos
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