A grande enchente completa 29 anos
O dia 6 de julho de 1983 foi de alerta para os moradores do Vale do Rio do Peixe.

O dia 6 de julho de 1983 foi de alerta para os moradores do Vale do Rio do Peixe. A chuva forte e constante não dava tréguas e o rio já se transformava em um monstro assustador, pronto para levar embora anos de trabalho e sonhos dos habitantes das cidades ribeirinhas.
Com a enchente se aproximando a situação era de alerta e de extrema tensão. O pior viria no dia 7 de julho, quando definitivamente as águas saíram do leito e formaram um quadro que até hoje não sai da memória de quem presenciou aquela que foi considerada uma das maiores e mais devastadoras enchentes de todos os tempos na região. Uma das pessoas que lembra muito bem da história é o professor Euclides Riquetti, ex-prefeito do município de Ouro. “Dia 07 de julho, pela manhã, o Rio do Peixe já saíra da caixa em Ouro e Capinzal. Antes do meio dia as águas adentraram ao Ginásio de Esportes André Colombo, em Ouro. Fomos ajudando a retirarem as mudanças e passando-as às escolas. Por volta de 17h30 as águas chegaram à Praça Pio XII. Às 20h estavam na Prefeitura e Posto de Saúde. Oitenta por cento das casas comerciais invadidas. As 96 casas abaixo da ponte pênsil em Capinzal se foram de uma só vez.” Descreveu. As estradas da região começaram a apresentar problemas, o trânsito na SC-303 foi interrompido, o centro da cidade de Lacerdópolis estava tomado pelas águas e barreiras haviam caído na rodovia de ligação com Joaçaba. O tráfego de veículos ligando Capinzal e Ouro à região de Joaçaba foi desviado pelo interior de Ouro. Nas cidades a situação era de calamidade. As casas e prédio que ficavam nas margens do rio iam ruindo. Quem viu descreve que era possível observar no rio construções inteiras sendo levadas pelas águas. O desespero batia em quem via tudo que tinha ir água abaixo. Com a chegada da noite do dia 7, surgiam rumores de que a ponte Irineu Bornhausen, em Capinzal, não suportaria a correnteza. A ponte pênsil, pouco abaixo, já tinha sido levada pelas águas. Em Joaçaba e Herval d´Oeste a apreensão também não era pequena. As pessoas se aglomeravam nas ruas próximas ao Rio do Peixe para ver aquele “espetáculo” assustador que a natureza proporcionava. Famílias ribeirinhas corriam contra o tempo, vendo que a chuva não dava tréguas e que a água do rio aumentava seu nível. Em Luzerna a parte baixa e mais próxima do rio já era devastada pela força das águas. As residências ao longo da Avenida Caetano Natal Branco também. A enchente mostrava seu poder assustador arrastando vagões e até mesmo locomotivas na estação de Herval d´Oeste. O empresário Luciano Klin Trentin morava em Joaçaba na época e relembra cenas de desespero da população diante da enchente e da necessidade de buscar alimentos. “Muitas imagens sempre serão lembradas. Eu estudava no Colégio Celso Ramos e ia para lá, mesmo com as aulas suspensas, passando na rua em frente ao Frei Rogério e descia na rua perto da ponte Emilio Baumgart. No local havia um mercado e a água estava invadindo, destruindo tudo e muitas pessoas se arriscavam para pegar os produtos que flutuavam. O dono do mercado corria e retirava, as vezes com certa violência ,dos braços das pessoas”. Joaçaba e Herval d´Oeste se orgulhavam de ter a maior ponte construída sem auxílio de escoramento, fato inédito na história do concreto armado no mundo, a Emílio Baumgart, que levava o nome do engenheiro que a construiu. Mas nem mesmo o que foi projetado para suportar ás águas, resistiu. Na madrugada do dia 8 de julho, pelos relatos de quem morava perto da ponte, só se ouviu um grande estrondo e foi possível perceber que a estrutura havia sucumbido. O rio subiu até o início do dia 8. Por volta de meia-noite e meia ele começou a baixar, mas em alguns pontos o nível chegou a quatro metros acima da pavimentação das ruas. Ao clarear o dia 8 de julho já não chovia mais. Para quem não viveu a tragédia de perto é difícil mensurar do que o Rio do Peixe foi capaz, mas recordar no faz ter a noção exata de que a história da região ficou marcada por este acontecimento. O mais importante foi a capacidade de reconstrução e reorganização da região, que soube se recuperar. Serve também de alerta, e levanta questionamentos. Talvez o mais importante seja: aprendemos e nos preparamos com o que aconteceu no passado?
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