Coluna Brinda Brasil
Por Rodrigo Leitão O mercado brasileiro de vinhos vem crescendo a passos largos desde 2004.
Por Rodrigo Leitão
O mercado brasileiro de vinhos vem crescendo a passos largos desde 2004. Na última década, o vinho brasileiro passou a ocupar lugar de destaque no mercado internacional e já são mais de 2 mil medalhas conquistadas em concursos mundo a fora, certificando a qualidade dos nossos vinhos e espumantes. O Brasil caminha para figurar entre os maiores consumidores e produtores de vinhos do mundo. Hoje, somos o quinto maior produtor do Hemisfério Sul — que incluiu Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Chile, Argentina e Uruguai — e o 13º em todo o planeta. Devido à nossa elevada densidade demográfica, de cerca de 200 milhões de habitantes, esses números se diluem quando a estatística preza o consumo per capita, que em 2011 chegou a dois litros de vinhos por habitante ao ano. Se comparado ao Chile, onde cada habitante consome, em média, 14 litros de vinho por ano, sugere um mercado desprezível, mas em números absolutos, o referencial é outro. O Brasil consumiu, em 2010, 400 milhões de litros de vinhos, algo próximo de 600 milhões de garrafas. De longe, os brasileiros são os maiores consumidores de vinhos do Cone Sul.
O Estado de Santa Catarina é segundo produtor brasileiro, perde apenas para o vizinho Rio Grande do Sul. Inclui-se nessa conta toda a produção de vinhos finos e de mesa. Mas curiosamente, quando se fala em vinhos finos, aqueles com nomes das uvas nos rótulos (Merlot, Malbec, Cabernert Sauvignon, Chardonnay etc.), ou com nomes diferenciados (Innominabile, Joaquim, Leopoldo etc.), os catarinenses consomem mais vinhos dos vizinhos gaúchos que a sua própria produção. O mercado catarinense consumidor de vinhos finos está levando a sério o ditado “Santo de casa não faz milagre”. Mas nem sempre isso é desconhecimento do consumidor. Muitas das vinícolas de Santa Catarina ignoram o próprio mercado e preferem exportar seus vinhos de maior qualidade para outros estados e até para fora do País.
Mesmo assim, no cenário nacional, os catarinenses apreciam menos vinho que gaúchos, cariocas, paulistas, paranaenses e capixabas, embora os vinhos produzidos na Serra Catarinense e no Vale do Rio do Peixe estejam sendo muito bem avaliados nos demais estados brasileiros e conquistando prêmios no exterior. Enquanto os gaúchos consomem uma média anual de 3,97 litros, os catarinenses ficam com 1,8 litro por pessoa ao ano. Se levarmos em conta que Santa Catarina produz cerca de 17 milhões de litros de vinhos por ano, é uma média abaixo da expectativa. Deste total, menos de dez por cento é vinho fino, a maioria da produção do estado está concentrada no vinho colonial.
Mas estamos falando de um mercado promissor, que já conquistou adeptos no Brasil e no exterior e cuja produção deve crescer cerca de 500% nos próximos dez anos. Hoje, a população envolvida pela produção de vinho em Santa Catarina está em torno de 1,6 milhão de pessoas, são 60 mil empregos diretos desde o plantio da uva nas fazendas (aproximadamente 800 produtores de uvas só no Vale do Rio do Peixe) até a comercialização dos vinhos em lojas e supermercados. Atualmente, 20% da população das principais regiões produtoras (Vale do Rio do Peixe, Serra e Sul do estado) trabalha no setor vitivinícola e cerca de 100 mil família são beneficiadas por este negócio, em Santa Catarina.
Mas será que você leitor ou os prefeitos desta bela região, seus deputados estaduais e federais, semadores, governador e secretários de Estado conhecem os vinhos finos daqui? E se conhecem, por que não agem em favor desta produção?
Algumas vinícolas catarinenses estão roubando o reconhecimento (mas não o mercado) dos gaúchos, que têm ajuda pesada de seu governo estadual. A Santa Augusta, de Videira, recentemente teve seu Espumante Moscatel premiado na Europa. O Espumante Rosé da Villaggio Grando foi eleito este ano o melhor brasileiro na Expovinis. O enólogo vivo que há mais tempo trabalha com vinhos no mundo, o português Antonio Saramago (51 anos de vinho), produz dois vinhos em Água Doce. O Francês Jean Marie Rosier conseguiu fazer um vinho de altitude com sete uvas para a Villaggio Grando, chamado Innominabile, que é confundido por especialistas com um Bordeaux francês. O vinho rosé da Villa Francioni venceu recentemente uma degustação às cegas em São Paulo (ninguém sabia o que estava bebendo!) e foi eleito o melhor vinho rosé à venda no Brasil, incluindo argentinos, chilenos e franceses. A Pericó teve a audácia de fazer aqui, na Serra Catarinense, um vinho doce para sobremesa que antes só era possível com a mesma qualidade na Alemanha e no Canadá, o chamado ice wine (vinho do gelo). E a Quinta Santa Maria reuniu especialistas num restaurante em Brasília e pediu que eles comparassem seu Chradonnay sem madeira com um Chablis francês (vinho da Borgonha considerado um dos melhores do mundo). Venceu o vinho da QSM.
Com o tempo, vamos desvendar aqui toda essa bela e saborosa produção para você caro leitor.
Tin-Tin!
Dicas de harmonização
Molho vermelho – Usa-se vinho tinto, se for de tomate ou tiver carne. Se for um molho de frutas, prefira vinho rosé.
Molho branco – Pede vinhos brancos, de preferência da uva chardonnay, que serve também para acompanhar peixe cozidos e frutos do mar cozidos.
Frutos do mar – Os feitos ao bafo, na brasa, crus (ostras) pedem vinhos da uva sauvignon blanc.
Churrasco – Vinhos com várias uvas, ou de uvas malbec, tannat e shyra.
(*) Tire suas dúvidas, envie e-mails para nós: [email protected]
Acesse também: www.gourmetbrasilia.com.br
O Colunista
Rodrigo Leitão, especialista em enogastronomia. O novo colunista dedica-se há três décadas ao jornalismo e já passou por redações como O Globo, Jornal de Brasília, TV Brasília, TV Band e Rádio Band News FM, em Brasília onde atua no segmento de comunicação e eventos. Rodrigo Leitão organiza anualmente o Brinda Brasil – Salão do Espumante de Brasília, o maior encontro nacional exclusivamente com produtores de espumantes. Ele já atuou nas áreas de Economia, Política, Internacional, Cultura e Saúde, onde conquistou vários prêmios.
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