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Coluna Brinda Brasil – O vinho da Última Ceia seria um Syrah?

Por Rodrigo Leitão Na época de Cristo, a produção de vinho em Israel era feita na região da Judéia.

Éder Luiz

Éder Luiz

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Por Rodrigo Leitão

Na época de Cristo, a produção de vinho em Israel era feita na região da Judéia. E isso era secular no Oriente Médio e na Ásia Menor, onde os registros de cultivo da uva remontam 7 mil anos. O comércio de vinho por ali se proliferou na época dos persas, quando se trocava o azeite e o vinho produzidos na Judéia pelo trigo persa. O cultivo do vinho naquela região é citado até mesmo na Bíblia. Em João 2:34, Maria é taxativa para Jesus, nas bodas de Canaã: "Eles não têm vinho." E aí Jesus fez um vinho melhor que o que estava sendo servido antes, usando apenas água. E na Última Ceia, Jesus serviu vinho aos apóstolos! Aqui vale um parêntese para explicar que a Pérsia ocupava um território que hoje está dividido entre o Irã e o Iraque. Daí, construí uma tese de que o vinho de Jesus poderia perfeitamente ser de uva Syrah. Essa hipótese pode ser relacionada ao fato de que a cidade persa de Syrah, produtora de vinho e uva do mesmo nome, sobrevive ainda hoje no território iraniano. Contudo, o vinho daqueles tempos não era como o de hoje. Não havia um vinho amadurecido, filtrado, macerado e fermentado com a tecnologia surgida a partir do século 13. Era uma bebida sempre jovem, bravia, muito tânica e muito ácida. Há registros de que era preciso decantar esse vinho com água do Mar Morto, para que ele se tornasse palatável. Mas, hoje, na Judéia, se faz vinho de excelência, assim como em Bordeaux. Eu já experimentei um que é excepcional. Chama-se Castel Gran Vin (foto). Quem me ofereceu foi meu professor de enologia, o sommelier Antônio Matoso Filho. O Castel Gran Vin é produzido pela Domaine du Castel, instalada no Moshav (assentamento rural em forma de cooperativa) de Ramat Raziel, pertinho de Jerusalém, no Vale da Judéia. A empresa é a mais ambiciosa de Israel. Seu principal vinho tinto fica dois anos em barris novos de carvalho francês. É um vinho ousado. Um blend tipicamente bordalês usando Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, Cabernet Franc e Malbec. O volume de álcool é alto, 14%, e a guarda é de mais de dez anos. No nariz, percebe-se primeiro resina, mamão verde, amora, geleia de ameixa. Na boca, é nítido o paladar voltado para o tostado do grande período que passou em madeira, o que pode redundar na sensação de tabaco e chocolate. Uma ponta final de pimenta tempera esse vinho que tem harmonização sugerida para carnes grelhadas e cordeiro. O especialista e principal crítico norte-americano de vinhos, Robert Parker, deu 92 pontos (numa escala até 100) para ele. É um vinho surpreendente, revelador e de uma região onde não se imagina (pelo menos eu não sabia disso!) que se faz grandes vinhos com técnica e informação direta de Bordeaux. E importado pela Mistral e custa R$ 814,00. Por causa desse valor, acho que nunca mais vou tomá-lo (o que é uma pena!). Mas fica a dica acessível: Vinho de uva Syrah para a Semana Santa! Características gerais do vinho elaborado com a uva Syrah – É uma uva conhecida como original do Vale do Rio Rhône (França), mas suas cepas podem ter vindo do oriente médio, já que quem levou as uvas para aquela região, há mais de 2 mil anos, foram os romanos, que dominavam a Ásia Menor. Hoje, essa uva é destaque também na Austrália, Chile, Califórnia e África do Sul. Também conhecida como Shiraz. Quando elaborado com uva madura, o vinho ganha potencial alcoólico e pode ser guardado por vários anos com ótima qualidade. É um vinho de cor intensa, aromático, fino e complexo. É tânico, estruturado e com acidez adequada. Aromas comuns: trufas, tabaco, alcaçuz e frutas vermelhas (groselha, mirtilo (amora) e framboesa), floral e especiarias. A melhor harmonização é com cordeiro, carnes vermelhas com médio teor de gordura (picanha, fraldinha, contrafilé), massas com molhos picantes, frango ao vinho, queijos duros.

Rodrigo Leitão, Especialista em Enogastronomia.

O colunista dedica-se há três décadas ao jornalismo e já passou por redações como O Globo, Jornal de Brasília, TB Brasília, TV Band e Rádio Band News FM, em Brasília, onde atua no segmento de comunicação e eventos. Rodrigo Leitão organiza anualmente o Brinda Brasil – salão do espumante de Brasília, o maior encontro nacional exclusivamente com produtores de espumantes. Ele já atuou nas áreas de economia, política, internacional, cultura e saúde, onde conquistou vários prêmios.

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