O Portal Éder Luiz começa a publicar a partir de hoje as crônicas escritas pelo jornalista Pablo Casarino, nosso colaborador e que se revela um poeta de qualidade. Pablo publicará periodicamente sua impressão sobre vários assuntos, sempre abordando com seu olhar o cotidiano de nossas cidades. As crônicas do Pablo fazem parte do espaço que o portal abre para as mais variadas manifestações, através de textos e até mesmo dos comentários de nossos leitores. Boa leitura!
Por Pablo Casarino
Da janela lateral
Da janela vejo as montanhas e as estrelas a cintilarem no céu. Brilham por insistência porque no bairro que homenageia o Menino Deus, às vezes como diz Caetano Veloso, a feia fumaça que sobe também apaga as estrelas.
A ponte por muitas vezes foi motivo de discussões acaloradas: – Essa ponte é muito perigosa. Quantas pessoas ainda precisarão perder suas vidas para serem feitas melhorias? Aliás, falando em mortes, essa mesma ponte foi testemunha do salto de um caminhão que tingiu de sangue e extrato de tomate as águas do Rio do Peixe, ceifando quatro vidas.
Todas as cenas são registradas pela minha audaz retina da sacada do apartamento, ou, como dizia Lô Borges: “Da janela lateral do quarto de dormir”.
Registros muitas vezes embalados por um charuto ou muitas cuias de chimarrão.
Ao longe na montanha, um dos comércios mais antigos do mundo continua a pleno vapor na casa com a luz azul que, apesar de parecer, nada tem de um monastério. Comercializa-se o corpo, iludem-se vidas.
Duas mulheres, que pela frequência que sobem e descem a rua, devem tratar-se de minhas vizinhas, passam efusivamente discutindo. – Para que essa sombrinha na mão? Está chamando chuva. Você não tem medo de andar sozinha por essas ruas escuras essa hora da noite? – Não. Por isso carrego comigo essa sombrinha. Quero ver se algum vadio vai querer se aventurar a me chatear.
O fim das tardes é colorido por bandos de pássaros que não consigo reconhecer as espécies. Sei que voam do sul para o norte e no mesmo horário, a procura talvez, de abrigo, comida ou companhia. Um desses bandos é bastante curioso por voar sempre em número ímpar. Acho que ali, para algum deles, a busca certeira é por companhia.
O sino da igreja faz meu cão, o Stone, uivar. Sempre fiquei intrigado porque ele uivava quando eu brincava com o trompete e repentinamente começou a repetir o feito com o badalar do sino. Achando que o barulho poderia estar proporcionando desconforto ou dor no meu amigo, ao pesquisar na internet o motivo dos uivos dos cães, aliviei-me. Na grande maioria das vezes é de felicidade. Querem interagir com o som. Estão Cãotentes.
Minha abelhudice começa a focar em outras paragens, a serpente de luz dos faróis que colorem a Avenida Santa Terezinha. Posso observá-los melhor pela obrigatoriedade de os motoristas diminuem a velocidade na lombada eletrônica. Quantos motoristas circulam ali por hora? Por onde andam? Fugiram de casa? Saíram para passear com os netos? Voltam do trabalho? Estão de férias? Quantas alegrias, dores e desejos passam por aquelas mentes? Quantos sonhos? Será que terminaram um relacionamento? Ou estão a caminho de oficializar um?
E assim a interminável dança das horas faz da minha mente solo fértil. Assuntos que se misturam. Personagens que compõem a rotina de meus dias a olhar pela janela.
Pablo Casarino, jornalista, poeta e cronista
Natural do município de Campo Belo, Sul do Estado de Minas Gerais, Pablo Casarino cursou Comunicação Social, habilitação em jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC/MG). Amante das artes, desde criança fez da produção de crônicas e poesias seu passa tempo.
Enquanto assessor de comunicação na Assembléia Legislativa de Minas Gerais pôde participar de Saraus e conhecer a efervescência do cenário cultural de Belo Horizonte.
Em suas andanças morou em São Paulo e outros municípios do país, sempre buscando absorver os costumes e a cultura dos lugares por onde passava.
Foi docente do curso de comunicação social em Moçambique na África, estreitando os laços com a poesia de escritores daquele continente.
Ficou em terceiro lugar na premiação do 1º Prêmio Internacional de Poesia – Casa de Cultura Manoel Antônio de Carvalho (Casa Mac) de Belo Horizonte, com o poema Permissão, publicado em uma antologia.
Há três anos reside em Santa Catarina. Atualmente é jornalista da Valemais Comunicação e do Portal Éder Luiz.
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