Fé que atravessa gerações: Romaria de Frei Crispim celebra 100 anos de sacerdócio com testemunhos de milagres
A 26ª edição do evento acontece no dia 24 de agosto no distrito de Santa Lúcia, interior do município de Ouro (SC). A celebração...

No próximo dia 24 de agosto, domingo, o distrito de Santa Lúcia, no interior de Ouro (SC), será novamente destino de centenas de fiéis que participam da 26ª Romaria de Frei Crispim, uma das manifestações religiosas mais tradicionais do Oeste catarinense. Este ano, o evento terá um significado ainda mais especial: a celebração dos 100 anos de sacerdócio de Frei Crispim de Vigorovéa, frade capuchinho que se tornou símbolo de fé, humildade e serviço ao próximo.
A programação da romaria começa ainda na madrugada, com caminhada, missa e almoço festivo. Mas é muito mais do que um evento religioso: é um tributo à memória viva de um homem que, mesmo décadas após sua morte, continua inspirando e transformando vidas.
De soldado a missionário: a jornada de Frei Crispim

Leão Baldo Lorenzino nasceu em 12 de abril de 1899, na Itália. Após entrar para o seminário e se tornar capuchinho, adotou o nome Frei Crispim. Foi ordenado sacerdote em 1925, na Basílica de São Marcos, em Veneza. Serviu na Primeira Guerra Mundial, mas mesmo em meio ao horror do conflito, demonstrava seu espírito franciscano — como quando libertou prisioneiros por compaixão, mesmo sob ordens de mantê-los sob custódia.
Chegou ao Brasil em 1947, após insistir em ser missionário, e atuou em diversas cidades do Paraná e Santa Catarina. Em 1957, chegou a Santa Lúcia, onde viveu seus últimos seis anos.
Simplicidade, fé e dedicação a uma comunidade

Frei Crispim finalizou a construção da Igreja Matriz de Santa Lúcia, reorganizou a comunidade, visitou capelas a pé ou a cavalo, atendeu os pobres, cuidou de doentes e viveu com simplicidade franciscana.
Seu jeito brincalhão e sua fé inabalável cativavam adultos e crianças. “Com ele não havia tristeza”, disse Frei Ivo Bonamigo. “Quando estava entre os frades, todos riam com suas histórias.” Um de seus coroinhas, Ivo Rosa, lembra que “ele preferia andar a cavalo do que sujar o jipe com barro” e que “fazia questão de visitar cada família, mesmo nos dias de chuva e lama”.
Depoimentos comoventes: “Padre Santo” do povo
No livro que resgata a memória do Frei, escrito por Ilse Debarba e Idemar Debarba, vários moradores de Santa Lúcia e arredores relataram graças e milagres atribuídos à intercessão de Frei Crispim. A devoção cresceu de forma espontânea logo após sua morte em um acidente de carro, em 1963. Abaixo alguns trechos desses depoimentos colhidos no livro e feitos por moradores que já falecerem, mas deixaram seus relatos de forma muito forte:
Anastácia Fochesato conta que, durante uma gestação de risco, frei Crispim lhe deu a Unção dos Enfermos. Ela sobreviveu e diz: “Recebi duas graças dele: minha filha e meu filho estão vivos graças às orações que fiz a Frei Crispim”.
Clarimundo Facin, que o acompanhava nas visitas às capelas, conta: “Um dia, vi o frei ao lado do sino com um livro na mão. Quando olhei de novo, ele não estava mais lá. Pela estatura, era o Frei Crispim”.
Dona Assunta, que lhe mandou um prato de feijão num dia de chuva, acredita que ele já era santo em vida: “Como ele sabia que eu estava cozinhando feijão? Só pode ser milagre”.
Aristides Tiepo, que ajudou na construção da igreja, relembra: “Todos nós, quando víamos o frei, tínhamos a impressão de ver um santo”.

Caminho aberto à beatificação
Com o passar dos anos, a fama de santidade de Frei Crispim só cresceu. Seu túmulo no cemitério de Santa Lúcia segue sendo ponto de orações, com velas acesas e pedidos de graças. Os organizadores da romaria confirmam que o processo de beatificação já está iniciado, embora aguarde na fila do Vaticano devido ao adiantado estágio da causa de Frei Bruno, da mesma diocese.
Como escreveu Frei Casimiro, um de seus sucessores:
“A fama das virtudes do santo falecido corre por todos os recantos da paróquia Santa Lúcia e arredores... entre as virtudes mais apregoadas está a santa simplicidade acompanhada de vida austera e penitencial. Muitos relatam curas e favores.”
Programação da 26ª Romaria de Frei Crispim – 24 de agosto de 2025
Distrito de Santa Lúcia, interior do município de Ouro (SC)
- 2h30 – Caminhada com saída da Comunidade São Cristóvão, Capinzal
- 9h30 – Romaria com saída do cemitério de Santa Lúcia
- 10h00 – Santa Missa com o Ministro Provincial Frei Evandro Souza
- 12h00 – Almoço festivo (fichas à venda com os organizadores)
No sábado, 23 de agosto, haverá almoço com espeto corrido, mediante reserva antecipada.
Uma devoção que se renova a cada ano
A Romaria de Frei Crispim é mais do que um momento de fé. É a continuação de uma história que une gerações em torno da espiritualidade, da simplicidade e do exemplo de um frade que viveu com entrega total ao povo. E que, para muitos, já é santo.
Para acompanhar nas redes sociais
Os devotos mantém no Facebook uma página onde é possível acompanhar as transmissões de missas, novenas e da Romaria, além de outras informações sobre os eventos.
Para a acessar e seguir clique no link: facebook.com/DevotosDeFreiCrespim









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