O exemplo de superação de Andressa
A história que segue poderia ter sido retirada de algum livro, mas é o retrato de uma vida marcada por conquistas.

A história que segue poderia ter sido retirada de algum livro, mas é o retrato de uma vida marcada por conquistas. Só que para estas conquistas se efetivarem, houve perdas irreversíveis e delas, surgiu uma nova esperança. Junto com a esperança, a vontade de transpor as limitações e se permitir sonhar uma vida normal, dentro de uma nova realidade. Uma vida marcada pela superação.
No dicionário, a palavra superação significa o ato ou efeito de superar. Passar por cima; superar a expectativa; vencer. Enfim, vencer todas as dificuldades. Andressa Luiza Santin, 23 anos, deve ter sido a referência para o dicionário e é a prova viva que superar-se é possível. A recém-formada bacharel em Direito tem uma história de lutas e conquistas. E ela mostra, a cada dia, que quando se tem vontade, o impossível não existe. “A vida nunca é perfeita, mas é preciso que cada pessoa olhe à sua volta e perceba que existe ao seu redor uma beleza única: a beleza da vida”, afirma ela que é portadora de uma doença rara, a distrofia muscular congênita, que ataca a musculatura e a impede de se movimentar. Mas nem mesmo essa doença de nome complicado e consequências graves, que só foi descoberta na sua infância, foi suficiente para que a jovem desistisse de seus sonhos. Muito pelo contrário, as limitações lhe impulsionaram para a vida. Tanto que Andressa acumula conquistas e, além da formatura, conseguiu ficar entre as três melhores notas do país no dificílimo exame da Ordem dos Advogados do Brasil(OAB). Como tudo começou Tente imaginar o seguinte: você tem a sensação de liberdade, pode andar, correr, pular, ir de um lugar para outro livremente e de repente, tudo isso acaba. Foi o que aconteceu com Andressa, que mora na cidade de Macieira e para se formar fez o trajeto até Videira todos os dias. A doença foi diagnosticada quando tinha apenas 4 anos de idade. Até então sua vida era praticamente normal. Com o tempo, seus pais começaram a notar alguns sinais de que havia algo errado com ela, pois quando começou a andar encontrava algumas dificuldades. Andressa não corria como a maioria das crianças, não subia escadas sem ajuda. “Meus pais contam que em um morrinho próximo à minha casa, eu subia de ré, o que lhes chamava a atenção, pois não era normal”. Nessa fase, a doença estava começando a se manifestar. Depois de alguns exames, em Caçador, veio o diagnóstico da distrofia. Aos 5 anos, Andressa parou de andar, pois tinha desenvolvido uma atrofia no tendão de Aquiles, que não a permitia se deslocar. Após uma cirurgia ela voltou a ter uma vida normal, como a de qualquer outra criança. Mas o que a sua família não esperava era a evolução da doença que começou a interferir em todos os seus ligamentos. Três anos depois, ela novamente parou de caminhar. Aos 9 anos se submeteu a uma nova cirurgia, desta vez na cidade de Pato Branco(PR). “Depois dessa cirurgia eu me tornei independente fazendo tudo sozinha. Mas essa liberdade durou apenas três meses, pois logo começou aparecer problemas novamente”, lembra ela. A atrofia era tamanha que desenvolveu complicações que dificultavam sua locomoção. Até os 13 anos Andressa ainda conseguia andar, mas sempre com ajuda de alguém. Depois desse período, vieram outras complicações que fizeram com que Andressa não conseguisse mais caminhar e novas cirurgias foram necessárias. Andressa conseguiu novamente sentar em posição correta. Mesmo sofrendo com a doença rara, ela não deixou se abater. Andressa conta que no seu caso, esforços físicos não são recomendados já que as células musculares são afetadas. Quando as pessoas praticam atividades físicas essas células são mortas, mas são reproduzidas em grande escala, sendo recompensadas. Com a doença a jovem perde essas células e elas não se reproduzem em grande quantidade não compensando o seu gasto provocando as atrofias e outras complicações. Hoje, mesmo Andressa tendo seus movimentos limitados, consegue digitar no computador, folhear livros, manusear objetos leves e de pequena proporção, além de movimentar sua cabeça para frente e para os lados. Sente suas pernas e pés, mas devida a evolução da doença não é possível ficar em pé, por isso é necessário o uso de uma cadeira de rodas. Infância e os Livros Quando se é criança as opções para a diversão não param de ser inventadas e colocadas no mercado para que se possam passar momentos agradáveis e divertidos. São bolas, bonecas, carrinhos, piscina, jogos e uma infinidade de brinquedos. Como a infância de Andressa foi diferente das demais crianças pela sua dificuldade de locomoção, uma alternativa encontrada pela família foi compensá-la com brinquedos e muitos livros, o que tornou sua paixão desde menina. “Não me sentia diferente. Eu não entendia o porquê de não poder fazer as mesmas coisas que a maioria das crianças da minha idade, mas sempre tive muitas pessoas especiais próximas de mim o que me compensava. Eu tinha muitos brinquedos, então não sentia falta de correr. Fui me acostumando desde pequena com minhas limitações”, explica ela que até os dias de hoje não se vê longe dos livros. Ela foi alfabetizada em casa antes de ingressar a escola primária. Como sua mãe era professora se dedicou a lhe ensinar o amor pelos estudos. Toda a família lhe presenteava com livros, pois sabia que gostava. Já aos seis anos de idade lia romances e literaturas famosas. “Eu ganhava muitos livros, dos meus pais, tios, avós primos, todos sabiam dessa minha paixão”, conta. A paixão pela magistratura Assim como o avô a ajudou na hora de escolher a sua profissão, o exemplo do irmão que já cursava direito serviu como parâmetro do que iria encontrar na universidade. Carlos Alberto Santin, já estava no segundo ano do curso de Direito na Unoesc, quando soube que sua irmã gostaria de seguir a mesma profissão, e iria entrar na faculdade já que tinha se formado no segundo grau. Ela conta que sua doença nunca foi um empecilho para parar seus estudos ou fazer alguma atividade diferente. “Graças a Deus, nasci em uma família com uma boa estrutura, que fez com que eu pudesse ter uma vida praticamente normal. Eles sempre fizeram de tudo para que eu não me sentisse diferente. Meu problema é apenas de locomoção, no resto sou normal”. Sabendo da dificuldade de locomoção da irmã, Carlos a auxiliou em todo o seu período de faculdade. Ela contou que ele teve muita paciência durante os cinco anos de estudo, pois trabalhava, saia às 17:00 horas de Videira, para buscá-la em Macieira para, daí então, juntos irem para a Universidade. Mesmo depois de formado ele continuou a auxiliando a levando todos os dias para os estudos. Ficava aguardando na biblioteca onde aproveitava para ler, e aprender mais. “Agi como irmão, isso é normal. Tenho muito orgulho de tê-la como irmã. Para mim ela é um exemplo a ser seguido. A Andressa é muito inteligente, o resultado na OAB só veio confirmar isso”. Os irmãos devem atuar juntos, numa sala já está sendo organizada para que em breve um escritório de advocacia seja montado. “Ganhei uma sócia de alto gabarito. É uma responsabilidade trabalhar ao lado de uma pessoa que obteve uma das três melhores notas no exame da OAB”, conta Carlos. Futuro promissor Com o gosto pela leitura e estudos, Andressa foi desenvolvendo a sua inteligência e facilidade nas questões de direito. Ainda na faculdade se destacava dos demais pela sua habilidade e fácil compreensão do assunto debatido em sala de aula. “Eu sempre estudei em casa antes de ir para a faculdade. Eu chegava lá já sabendo toda a matéria para poder extrair o que eu não sabia e não tinha compreendido dos meus professores”. Sempre com as melhores notas da sala, colegas para fazer trabalho em dupla não faltavam, mas ela disse que compreendia os colegas. “Na maioria das vezes as pessoas tem o costume de subestimar alguém que possuem alguma deficiência, pois não entendem que cada uma é diferente. A minha só impede a minha locomoção, sou normal como qualquer outra pessoa”. “Atualmente é obrigatório esse período atuando na advocacia, mas acho importante ter esse contato mais próximo com a população, logo vou voltar aos estudos e se Deus quiser vou conseguir passar no primeiro concurso que eu fizer, e assim realizar o meu sonho de se tornar Juíza”. Como sempre morou na região, ela disse que gostaria de atuar em Videira ou cidades vizinhas, mas que não terá problemas em sair da região para concretizar o seu desejo. Desejo de voltar a andar Em meio ao avanço das tecnologias e descobertas científicas, a jovem de 23 anos espera um dia poder voltar a andar e desenvolver atividades que hoje são difíceis ou impossíveis para serem realizadas sozinhas. Atualmente, os métodos de tratamento disponibilizados no Brasil e no mundo não podem ajudá-la, porém com células tronco ela acredita que conseguiria reverter o seu quadro de saúde. “Às vezes a sensação é de impotência. Talvez se eu não tivesse vivido isso, não saberia a sensação de liberdade de independência e seria mais fácil, mas eu sei como é andar, por isso é mais complicado. Acredito que com o avanço das pesquisas com células tronco, um dia eu possa conter a doença e voltar a andar”, espera . Ela disse ainda que não pode reclamar da vida que tem, pois depois de passar muito tempo em vários hospitais conheceu muitas pessoas e histórias de vida. Por isso, procura sempre analisar os outros casos sempre analisando pessoas que servem de lição, pois em vez de ficarem se lamentando, buscam alcançar seus objetivos. Andressa disse não ter o direito de reclamar de nada, pois existem pessoas que precisam de muito mais auxilio que ela e são felizes da mesma forma, estando sempre com um sorriso no rosto. “Tenho pessoas maravilhosas ao meu lado, não tenho do que reclamar”, finaliza.
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