Opinião – Comércio de Herval aberto aos domingos
Opinião - Comércio de Herval aberto aos domingos
Alex Morais
Antes de iniciar minhas considerações, quero me credenciar a ter o direito de ser ouvido – ou lido – porque há sempre aqueles “donos da verdade”, autoritários, com pensamentos retrógrados e herdeiros de uma cultura provinciana que dirão: quem ele pensa que é para falar? Tenho 39 anos de Herval d´Oeste e Joaçaba, sou eleitor, microempresário, empregador, pagador de impostos, consumidor e prestador de serviços ao comércio local e através da minha profissão, divulgo o nome do município na região e além, concorro com agências de publicidade de menor, igual e maior tamanho e importância que a minha e, devido a profissão que escolhi – e tenho clientes que estão lendo esta nota agora e podem comprovar – trabalho a noite e finais de semana. A rota da antiga estrada de ferro foi se afunilando com a rota da modernidade do asfalto e fatalmente este encontro aconteceria; momento de decidir o futuro da cidade. Parabéns aos que tem neste momento da história a caneta na mão para tomar decisão de tamanha importância. Seus nomes poderão entrar para a história do município, para o bem ou para o mal. Chegou a hora de decidir se queremos que Herval d´Oeste seja uma eterna coadjuvante (dormitório como já fomos chamados) ou comece a andar com as próprias pernas, se queremos ser uma cidade envelhecida como as do Sul de Minas – mas dai precisaremos também reformar nossos casarões ao longo da Santos Dumont e valorizar nossa cultura – ou então seguir a lógica do progresso e investir em crescimento e não precisarmos mandar nossos filhos para outros centros, para crescerem profissionalmente.
Um grande grupo – Passarela em questão – manifesta publicamente a intenção de investir de forma inédita em Herval d´Oeste e, após sua obra pronta, trazer centenas, talvez milhares de clientes a circular em nossa cidade e, ainda é preciso discutir se isto é bom ou não? O cavalo está passando encilhado e pode acabar pastando no terreno do vizinho. A discussão e o medo nas palavras de alguns tem explicação histórica: por longuíssimos anos os terrenos de Joaçaba e Herval d´Oeste pertenciam – ou ainda pertencem – a não mais do que 10 famílias (caso da XV em Joaçaba), pouco investimento no progresso local, muito no pessoal e uma também histórica falta de concorrência. Nossos pequenos mercados – de importância inquestionável – dominaram o comércio local por décadas, mas com investimento em estrutura reduzidíssimo, em qualidade no atendimento nem se fala, com aquele tradicional aspecto de rostos cansados e desanimados atrás do balcão, sabendo serem a única opção do seu respectivo bairro, até chegarem os grandes, bater o desespero e consequentemente o fechamento de algumas portas. O “não” de hoje tem a ver com motivos e interesses pessoais. O medo da mudança, da concorrência, do novo. Uma decisão pessoal que influenciará a existência do município nas próximas décadas.
É compreensível o medo, mas inevitável. O mundo mudou, mais cedo ou mais tarde abriria uma loja de roupas com mentalidade mais inovadora, criativa e atrativa que a sua, (e já abriu) uma empresa mais empreendedora que a sua, (e já abriu) uma nova agência de publicidade buscando atender os meus próprios clientes – (já há muitas). Mas então que decisão tomar? Tentar tapar o sol com a peneira e dizer “não” para o progresso ou investir na minha marca, minha equipe e me tornar atrativo ao cliente também? O que os faz pensar que, optando pela não abertura do comércio aos domingos e impossibilitando que o Passarela execute seu empreendimento aqui, ele não o fará nas terras do vizinho e a população hervalense irá da mesma forma aos domingos consumir seus produtos e desfrutar de seus entretenimentos? É óbvio. Não seria melhor que tal consumo e tal marketing positivo acontecesse então dentro própria casa? Perder o investimento para outra cidade não garantirá a solidez do nosso comércio. Sempre tivemos a grama do vizinho sendo mais verde que a nossa e quando finalmente tivemos a chance de tê-la verde também, não a regaremos propositadamente? (ressalto que como “vizinho” não me refiro apenas a Joaçaba, mas à um exemplo de que se não for aqui a obra, será em outro lugar).
Venho do marketing e não das leis, mas facilmente entendo que, se aprovada a autorização de abertura do comércio aos domingos, quem não gosta ou não quer trabalhar além do expediente dito comercial – como muitos se manifestaram – não serão obrigado à fazê-lo: será permitido abrir, não obrigatório. Mas é óbvio, quem o fizer, lucrará, e quem não o fizer, verá a grama do vizinho crescer a olhos vistos e este é justamente o medo dos que são contra. Dizer que isto é um retrocesso e volta à escravidão; ridículo. Alguém ai já ouviu falar em carga horária, hora extra, folga semanal e Ministério do Trabalho para fiscalizar caso haja irregularidades? Outro comentário sem fundamento é dizer que somos pequenos, do interior e não podemos querer nos comparar a centros maiores que tem força no seu comércio, que o que precisamos é de indústria. Não acredito que haja pessoas que ainda pensem assim e se considerem empreendedoras. Precisamos de tudo. Primeiro precisamos ser atrativos para que indústrias queiram se instalar aqui, instaladas, vão querer mão de obra e esta é composta por pessoas, que precisam consumir no comércio local e também se entreter.
Finalizo – mas poderia falar muito mais – dizendo que quem usa como parâmetro exemplos que estão abaixo de você, também será pequeno eternamente. Empreendedores vitoriosos são os que usam os maiores e melhores como parâmetro e inspiração e ousam chegar lá. A resposta ao empreendimento prometido é mais importante do que muitos à estão vendo e as consequências serão decisivas ao futuro de nossa cidade e seus respectivos moradores. Àqueles que pensam que nestas linhas em defesa do empreendimento há interesses pessoais, uma ressalva: quem mais irá se fortalecer na cidade e região após a inauguração deste projeto será a agência de publicidade do Passarela, minha concorrente direta na região e que “invadirá” a terra natal da minha empresa. Diremos à eles; bem vindos, viva a democracia, a livre e honesta concorrência e principalmente, o progresso. Encerro mandando cordial abraço aos frentistas, garçons, médicos, enfermeiros, taxistas, motoristas de ônibus e caminhão, atletas, bombeiros e policiais, funcionários de parques e shoppings, agentes de eventos e é claro, jornalistas, que até hoje não reclamaram que os eventos e as tragédias acontecem a noite ou nos finais de semana e lá estão eles, sempre prontos para trabalhar.
Obrigado por lerem até aqui.
Alex Morais – graduado em Rádio & Televisão, pós-graduado em Criação e Produção em Comunicação, sócio/diretor da Nativa Comunicação Integrada e redator e colunista do Jornal Pauta, ambas empresas situadas em Herval d´Oeste. Morador deste município.
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